Monday, May 31, 2010

Lxnet e o Mundo

Leitores do Tretas, vem aí assunto sério. Bem, o que vos quero mostrar não se pode definir como algo que seja sério, mas o contexto em que o quero encaixar é, talvez, um pouco frágil. Quero, desde já, deixar aqui assente que não é minha intenção tomar partido algum, nem muito menos opinar sobre a personagem que estão prestes a conhecer. Não quero ofender nem elogiar ninguém e se a minha opinião vier ao de cima, o que é provável que aconteça de forma subtil, perdoem a criatura crítica que existe em mim.

Este é o Bruno:



O Bruno não faz falta aos Ídolos e, como tal, o que ele decide fazer é pegar numa câmara, pintar o cabelo de cor-de-rosa - o cor-de-rosa mais berrante que os meus olhos já viram -, e ir para as ruas de Lisboa filmar a cidade como ele a vê.

Dito deste modo, até a mim me parece ser uma atitude bastante natural. O que não falta ao YouTube são vídeos inúteis e desnecessários sobre o irrelevante e o pouco importante que há neste mundo. A partir daí, o Bruno é bem-vindo a partilhar, virtualmente, todos os seus caprichos da imaginação, todos as suas fantasias, sonhos e quimeras.

Mas há devaneios que dão que falar mais que outros. Este é o Bruno e o seu programa, Lxnet:



...

Foi-me mostrado este vídeo ainda hoje e a pessoa que o fez avisou-me previamente que a personagem que me iria apresentar envergonhava toda a comunidade gay e que só tinha vontade de o esmurrar. À medida que o vídeo decorria e o víamos naquela sala minúscula, alguns riam, outros abanavam a cabeça incrédulos, outros ficavam irritados e uns diziam ainda estar a ficar mal-dispostos.

Este é o Bruno, que não se vê todos os dias, mas que podemos encontrar nos comboios da linha de Cascais, na Baixa-Chiado, no Starbucks ou, claro, no Trumps. São imensos os vídeos que podem ver no YouTube e que fazem parte deste programa, denominado por Lxnet. O que podem encontrar, também, juntamente com estes vídeos, são as famosas partilhas de opinião:

«morre paneleiro do crl»

«n dizes pão! Pede para cagar e sai.»

«és o quê? lisu ou... liso again... fonix deves ter um gosto de existir.»

«que nojo ...»

«falece»

«então e que tal calares essa boca de merda e utilizares aquilo que a tua mãe te deve ter dado, chamado cérebro. Hein?»

«lol, ele ta a gozar, deve ser uma cena a gozar com os Americanos ou assim...»

«oh meu idiota, primeiro eu gozei com ele. Portanto wtf para levares tão a peito uma piada sobre um puto gay, ofendi-te foi? e segundo, achas mesmo que aquilo vai continuar assim para sempre? quando tiver 30 já tá noutra onda... portanto, fuck off!»

Este é o Bruno e as suas frases características, que vai repetindo ao longo de todos os seus vídeos:



«hi bitch! migo tens de pintar essas raízes. take care.»

Eu, por vezes, rio-me. Rio-me especialmente no minuto 2.34, quando ele emite uns sons estranhos e faz uma expressão hilariante para o seu lado esquerdo. Por vezes, também me faz confusão. Choca com aquilo que eu acho que deveria ser. Mas quem sou eu? Com certezas vos digo que não conseguiria conviver com este ser e a pessoa que ele mostra nestes vídeos não é a mais interessante. Mas é chocante. Não interessa se o é no bom ou no mau sentido. Estes testemunhos nas ruas de Lisboa são chocantes.

Parece-me um pouco demais os comentários que possamos fazer, que definem isto como lixo e como parte do mundo que não deveria existir. No entanto, no meu meio social, admito que palavras semelhantes me pudessem sair da boca.

Mas, depois, lembro-me: whatever makes you happy.

Sim, é assustador e, sim, à primeira vista, parece manchar a ideia do que é um homossexual, mas, a verdade, é que também existem heterossexuais idiotas, se assim quiseremos definir o Bruno. A questão não é tratar-se de um paneleiro que não deveria existir, mas, sim, de um idiota que não deveria existir (usando palavras que não me pertencem). Não quero, de modo algum, entrar na discussão, já cansativa, das sexualidades e da discriminação, mas, digam-me: o que acham vocês do Bruno? Eu ando a aprender a ser mais tolerante.

Deixo-vos com mais um vídeo do Bruno. Aquela conversa sem teor que não se percebe de onde vem. Que vidas. Mas, bem, sem mais demoras, Lxnet - Bichas na baixa!!




Guess

Saturday, May 29, 2010

Reflections of a Skyline

Tenho a sorte de ter amigos cultos que partilham comigo as suas descobertas. Quando este vídeo me foi apresentado, tive preguiça em vê-lo, como muitas vezes. Mas lá me forcei a fazê-lo, porque a pessoa merecia, porque a conversa precisava disso.

É das coisas mais bonitas, mais simples, mais clara e desesperadamente verdadeiras em que já pousei o olhar... Da primeira vez, fixando o ecrã, sentindo a música percorrer-me a espinha, estive arrepiada o tempo inteiro. Agora, continua a deixar-me impressionada com a sua vulnerabilidade.



Se por acaso alguém tiver dificuldade com o inglês só de ouvido, o vídeo está aqui com legendas em inglês (apesar de ligeiramente dessincronizado).

Tem de ser visto. Porções de humanidade não se podem perder.

MJNuts

Friday, May 28, 2010

Saudades

Estou cheia de saudades de tanta coisa... Será do fim do Erasmus? Talvez. Mas a verdade é que, embora deva tanto a esta experiência, não vejo a hora de sair de Londres, voltar a Portugal, viver os meses de Verão em que tanta coisa boa me espera. O que podia viver e aprender aqui, já vivi e aprendi. Agora quero mais.

No entanto, sinto saudades de tudo.

Sinto saudades do meu melhor amigo, do meu irmão, o meu grande amor?, confortavelmente instalado numa bicicleta a pedalar perto de mim, muitas vezes à minha frente, às vezes lado a lado e quase nunca atrás de mim.

Sinto saudades da cama desarrumada da F., de estar lá esparramada a ver coisas palermas no computador e a ouvir músicas vergonhosas, enquanto tento decidir que hei-de comer entre tanta escolha boa. Tenho saudades de lhe poder enviar mensagens grátis sempre que me apetece a dizer parvoíces ou a partilhar as minhas dores. Tenho saudades das suas palavras quase sempre acertadas estarem a 10 minutos de distância, em vez de a 1585 quilómetros. Tenho saudades de como os nossos gostos e vidas culturais cresceram juntos e em comum.

Sinto saudades do ar exasperado da Twin porque eu digo tantas coisas que lhe soam absurdas mas ao mesmo tempo ela não consegue evitar gostar de mim e ajudar-me a ser mais carinhosa.

Tenho saudades da R., de ir às compras com ela, de me sentir mais bonita por ouvir as sugestões dela, de ouvir as sabedorias que ela tem para partilhar, de sorrir interiormente com as pequenas partes só dela que ela me consegue mostrar.

Tenho saudades do ATL, essa grande entidade que, na minha cabeça, me define tanto como pessoa. Tenho saudades dos miúdos, tenho saudades das actividades com água, tenho saudades dos almoços, tenho saudades das cantorias, tenho saudades das noitadas a preparar coisas. Sinto falta daquele calor quase, quase abrasivo que só existe no Zoo, que torna as sombras tão acolhedoras. Tenho saudades de cumprimentar pessoas que só conheço de vista e de gozar com os outros animadores. Tenho saudades de como um sorriso meu parece acalmar pais com dúvidas. Tenho saudades das conversas à boleia com a C.. Tenho saudades de ser feliz naquele local que me viu crescer e tornar-me melhor e é uma casa para mim, o local a que vou sempre voltar enquanto puder.

Tenho saudades da minha mãe adoptiva, de ouvir a voz dela, de saber que, por muito tempo que passe, o amor que temos uma pela outra ultrapassa distâncias e meses sem comunicação. Tenho saudades da irmã de coração que veio antes dela e do refúgio que ambas são para mim.

Tenho saudades da Giovanna e do quanto já tivemos e vivemos juntas. Tenho saudades das noites criativas e dos jantares naquela que ainda é a minha cozinha preferida. Tenho saudades dessa pessoa que também era eu, que escrevia mais e lia muito, muito mais. Sinto-me estúpida e ignorante, Jo. Tenho saudades de nós. Will you have me back?

Tenho saudades da minha amiga C., com o seu olho azulão, que há anos e anos me parecia uma adolescente com a sua pele de bebé e agora carrega nos ombros a sua família (e ainda tem pele de bebé!) com uma força e paixão inspiradoras. Tenho saudades de como passa tanto tempo sem nos vermos ou falarmos, mas ela não sai do meu coração e a conversa é sempre tão fácil...

Tenho saudades daquelas montanhas imperiosas da terra do meu pai, da paz e plenitude e esperança que representam. Tenho saudades de não ter rede no telemóvel e pouco me importar por isso.

Tenho saudades de ver os meus pais estendidos no sofá, cada um na sua posição clássica. Tenho saudades do silêncio confortável entre ambos e de me sentar aos pés do meu pai a ler.

Tenho saudades dos infinitos pequenos gestos que a minha mãe faz por mim, como compra os doces que por acaso me apetecem ou me substitui o gel de banho que já estava a acabar por um ainda melhor: gestos que eu vejo e me esqueço quase sempre de agradecer.

Tenho saudades da minha prima R., de falar abertamente com ela, de ir passear ou ao ir cinema, estar apenas com ela, à vontade, na galhofa, estarmos bem. Tenho saudades das tantas coisas fantásticas que sei que ela é e que ninguém repara olhando para ela sem a ver.

Tenho saudades da minha madrinha e dos seus adoráveis putos, que já têm o mais bonito coração que Portugal pode conhecer (e só podiam, com os pais que têm). Tenho saudades da serenidade que ela me transmite e tenho saudades de sentir que posso admirar e respeitar tanto outra pessoa.

Tenho saudades do meu avô e do orgulho que tenho nele.

Tenho saudades da minha prima S. e do quão forte ela é, tantas dores que já ultrapassou... Tenho saudades de ver aquele seu brilhozinho nos olhos enquanto alinha nas brincadeiras do N.. Tenho saudades do amor que me entra peito adentro quando ela me mostra que é possível permitir que haja alegria nos nossos caminhos, apesar de tudo. Tenho saudades de sentir que nela, aquela citação tão batida e esmorecida do Fernando Pessoa, se torna música para os meus ouvidos: "Pedras no caminho? Guardo todas. Um dia vou construir um castelo...".

Tenho saudades da minha prima M. e da ternura que me inspira, como a acho tão patareca de uma forma adorável. E até tenho saudades daquele puto loiro que corre por ali e que me conseguiu conquistar.

Tenho saudades da minha tia T. e de como ela, de uma forma tão diferente do que ensinam na escola, do que ensina o feminismo, do que me diz toda a racionalidade, é o mais firme exemplo de grande mulher em que os meus olhos já pousaram. Tenho saudades de às vezes ela me fazer parar, a olhá-la sem conseguir ter palavras, porque nunca na minha vida vi um rosto tão lindo e tão cansado e com tanta força e tanta doçura...

Tenho saudades da minha família. Não tenho saudades nenhumas do meio-segredo que com eles não partilho e que me faz ser tão pior com eles do que deveria...

Tenho saudades das noites de jogos com os dois irmãos que a Vida me trouxe. Tenho saudades da forma como um é tão sacana a jogar e o outro tão distraído. Tenho saudades da forma como eu sou um meio termo. Tenho saudades das pipocas da receita secreta e da tensão ansiosa que a atmosfera toma quando jogamos à estalada.

Tenho saudades dos silêncios reconfortantes que o calor da amizade me permite.

Tenho saudades de conduzir e de sentir-me a torrar ante o Sol a pôr-se. Tenho saudades de pôr a música aos berros e abrir as janelas, com a vaidade esperançosa de haver alguém que oiça e partilhe os meus gostos musicais. Tenho saudades de bater o ritmo no volante. Tenho saudades dos tantos passageiros que já desfilaram no meu carro.

Tenho saudades de praia e de areia e de mar. Tenho saudades do cheiro do vento à beira-mar. Tenho saudades de ter os pés cheios de areia e de sentir os dedos arranhados, se me calçar. Tenho saudades de beijar a minha pele quente e salgada e apaixonar-me por mim e pelas minhas madeixas molhadas. Tenho saudades de brincar na praia, fazer cambalhotas, flutuar ao sabor das ondas. Tenho saudades dos abraços de corpos mais ou menos despidos, de como há uma intimidade mais tímida quando as peles se tocam.

Tenho saudades da criança em mim que sempre vem à baila com o Guess por perto, a criança que sobe à torre da Galp, salta muros de cemitérios à noite, cai a canais e explora barcos abandonados.

Tenho saudades do quão crua e verdadeira eles juntos me fazem ser. Tenho saudades dessa sensação imensa de fragilidade e força que é o que nos faz simplesmente ser. Ser por excesso, ser por defeito, sermos inteiros juntos e incompletos porque há muito, muito mais que só nós.

Tenho saudades de fazer amor. Não de fazer sexo, porque, com toda a minha paixão desmedida, algo em mim se perdeu e partiu das pouquíssimas vezes que tentei fazer apenas sexo. Tenho saudades das horas, das palavras esquecidas, das lágrimas, dos risos, dos sons, da pele a colar, dos olhos a brilhar, dos beijos, das mãos a percorrerem os corpos, dos sentimentos prestes a explodir nas pontas dos dedos.

Tenho saudades das borboletas no estômago, que há cinco/seis anos atrás me faziam perder a força nas pernas só com o entrelaçar das mãos, mas que nunca mais se fizeram sentir.

Tenho saudades de amar alguém.

Tenho saudades daqueles olhos verdões, verde-garrafa, tão doces, que passaram três dias comigo e me deixaram aqui, entristecida com a promessa do que poderia ter sido, se não houvesse geografia. Tenho saudades do sotaque, das gargalhadas, do olhar tímido, da candura, da cumplicidade. Tenho saudades do meu francês mal amanhado. Tenho saudades da minha respiração suster-se inconscientemente porque houve um toque, um carinho, um segredo. Tenho saudades de nada disso ser fruto da minha imaginação.

Sim, tenho saudades do amor, do amor romântico.

Mas depois lembro-me do quão grande é o amor que sinto por todas as pessoas que me fazem sentir saudades e acho que não me falta assim tanta coisa. E, se faltar, tenho muito amor para receber.

Tenho saudades de te dizer que te amo, de te enviar postais aleatórios que colocas na tua parede. Tenho saudades de te chamar casa.

Tenho saudades de casa. Da casa que fica no cimo de três andares e tem uma gata a rebolar no chão e dois pais amorosos no sofá. Tenho saudades do meu quarto impessoal e do meu escritório desarrumado. Tenho saudades de tomar um banho que sabe a banho. Tenho saudades das cortinas espatafúrdias da banheira que a minha mãe vai trocando. Tenho saudades do quão bela e confortável é a madeira, no chão, nos roupeiros, na mobília. Tenho saudades dos sons dos passos e de reconhecer quem está a chegar a casa. Tenho saudades do plasma na cozinha contra a televisão gigantona e mal amanhada da sala. Tenho saudades dos DVDs por ordem alfabética e dos livros ordenados por colecção.

Tenho saudades do barulho metálico das portas das escadas. Tenho saudades do barulho das portas do carro a fechar. Tenho saudades do verde assustador da minha garagem, insuportável depois de um filme de terror.

Tenho saudades de me sentir às vezes pequena e acriançada perante ti, apesar dos teus 20 anos, quando outras vezes me sinto crescida e necessária. Tenho saudades desse equilíbrio, tão vital para mim.

Tenho saudades de me rir das minhas desgraças e azares amorosos, desgraças e azares que ela partilha e compreende tão bem.

Tenho saudades dela, que nunca conheci ao vivo, mas por quem sinto um carinho estúpido e inexplicável que julgava impossível entre gente que nunca conviveu pessoalmente. Acho que tenho saudades do quão feliz me faria ver que ela está bem e é feliz e o merece.

Tenho saudades de estar no Bairro e passar por dezenas e dezenas de pessoas, ouvir aquele emaranhado de vozes tão alto que não se distinguem palavras. Tenho saudades de lá estar com vocês, encostada a qualquer parede que seja. Tenho saudades de sair e sentir-me segura e saber que não vou voltar sozinha para casa.

Tenho saudades de dançar. De dançar contigo, meu homem louco. De dançar com elas, que gozam com as minhas expressões e alguns dos meus gestos, já automáticos. De dançar com alguém ao som de música nenhuma.

Tenho saudades de viajar e conhecer sítios novos. Tenho saudades de comboios e de como as suas janelas enormes cumprem a promessa de que efectivamente o mundo é enorme e falta tanto para ver...

Tenho saudades de me sentar em rochedos no topo de montanhas, de subir serras e rebolar colinas abaixo.

Tenho tantas, tantas saudades... Não sei de onde vieram. Acho que passei um ano a não as ter. A fingir que não as tinha.

Mas tenho. Tenho tantas, tantas saudades e não sabia que amava tanto e que o meu coração tinha tanto espaço para as ter.


MJNuts

Post de Resposta a «You Suck, Lost Ending!»

Este vídeo expressa, sem falha alguma, a minha paixão pelo final esperado de LOST.



Guess

Thursday, May 27, 2010

You Suck, Lost Ending!

Tenho desde já a avisar que este post vai conter palavras potencialmente menos simpáticas e não é improvável que me saiam, literalmente, caralhadas dedos fora. Peço desculpa aos leitores mais sensíveis.

O meu amor por Lost é conhecido por qualquer pessoa que conviva comigo, mais ou menos, e suponho que pelos leitores deste estaminé. Já me pronunciei umas quantas vezes sobre a série, ao ponto de a certa altura ter ponderado criar uma prateleira só de Lost, em vez de pôr os posts sob a prateleira Televisão.

Comecei a ver a série na 2ª temporada, na televisão. Depois pedi os DVDs da 1ª temporada emprestados e, a partir daí, segui tudo direitinho via download conforme ia dando na televisão americana. O meu amor era tal que muitas das legendas disponíveis online da 3ª temporada têm o meu nickname (não este, o nirky). O meu amor era tal, que paguei do meu bolso os packs das temporadas. A minha paixão assolapada durou 3 anos, até que chegou aquele desastre que foi a 5ª temporada. Desastre para mim, acho que nas internetes os fãs andavam todos histéricos de felicidade. Eu peço desculpa, mas pessoas bonitas presas nos anos 70 (depois de aborrecidíssimos episódios de infinitos saltos temporais) e a vestir fatos macaco não encaixam na minha definição de boa televisão. Já nem me lembro dos flashes fora da Ilha... Era o quê? Flashforwards à mesma? Não interessa. Basicamente foi na 5ª temporada que comecei a achar que os argumentistas não sabiam a quantas andavam e estavam a enveredar pela estratégia de confundir os espectadores de tal forma que nós íamos deixar de tentar entender e simplesmente engolir tudo o que o ecrã estivesse a oferecer-nos.

O final da 5ª temporada foi, para mim, o pior dos finais de qualquer season de Lost. A óbvia e claramente fabricada-para-o-propósito falta de cérebro dos personagens foi-me quase intolerável. O Jack tem razão, o Jack não tem razão, vamos mandar uma bomba atómica pela escotilha abaixo, não vamos, festa, yey! Pah, fiquei de tal forma estúpida a olhar para o ecrã que quando aquela coisa apareceu branca em vez do habitual preto, queria mandá-los todos à merda e não queria saber mais da série para nada. Aliás, a única coisa positiva que a 5ª temporada ter sido uma desgraça teve foi o facto de assim a espera de sabe-se lá quantos meses não me ter custado nada. Tanto não me custou, que quando Lost voltou nem me dei ao trabalho de ver, deixei andar.

Das duas vezes que tentei ver o 6x01/02, adormeci. Lá desisti e siga lá o 6x03 então. A partir daí, apesar de ser notório que Lost já tinha conhecido os seus tempos áureos, não achei muito mau. Alguns episódios foram bons, outros nem por isso (achei aquele do Richard uma seca descomunal, gabem o que gabarem as internetes; e o episódio do Jacob?! what the hell, people? tanta coisa para AQUILO?!? fuck you, Darlton). Aquela realidade alternativa dos flashes era amorosa, dava para rever personagens há muitos perdidos (ah, pun!) e eu gosto sempre daquela sensação de os ver cruzarem-se na vida uns dos outros.

E portanto dia 23 de Maio lá chegou o dia fatídico... Último episódio de Lost de todo o sempre. Eu já sabia que muitas coisas iam ficar por explicar, mas tinha esperança que, dessem eles a volta por onde dessem, a coisa me fosse agradar.

SPOILERS AHEAD

Não contei que o meu Jack!hate me fosse arruinar a experiência. Isso entre outras coisas. Não me vou sequer pronunciar sobre o facto de Lost ser das séries mais descaradamente misóginas dos últimos tempos: as mulheres servem para esposas, grávidas, interesses amorosos ou prémios de macho. Nunca liguei a isso por aí além, não vou fingir agora que ligo. Mas é que se fossem só misóginos... Não. As fundações de uma série inteira estão nos ombros de um personagem (e desculpem-me, mas preciso de inglês) egoísta, self-righteous, mimado, obnoxious, dogmático, obcecado por "corrigir" coisas e incapaz de aceitar visões diferentes da sua. Eu nunca gostei do Jack. Eu odeio o Jack. Mas assim com muita força, como nunca odiei personagem nenhum e duvido que volte a odiar, porque seria preciso o meu coração estar muito investido noutra série para originar sentimentos tão fortes. Aquele ser causa-me tal asco que muitas vezes nem os mil gozos e brincadeiras que há sobre ele por aí me fazem tolerar mais a sua existência.

Não consigo suportar ter chegado ao fim de 6 temporadas de Lost e ter um fim em que o Jack foi personagem centralíssimo e todos os seus defeitos pareceram ficar perdoados. Não basta a irritação de a realidade alternativa ser um limbo onde todos se encontraram após a morte, para poderem seguir juntos para onde quer que seja, ainda tive de ESPERAR que o menino Jack se deixasse das suas cientifiquices antigas (sim, porque na Ilha, ele já era todo fé e poder da Ilha e o camandro, mas na realidade alternativa era o idiota do costume) e se juntasse aos seus amigos dentro de uma Igreja para poderem seguir alegremente com a sua morte.

ARGH!

Eu até estava a gostar do episódio. Pelo menos da primeira parte. A coisa estava claramente a apelar à lagrimita, com tanta reunião e lembrança e flashes da 1ª temporada. Eu gostei disso tudo, não sou insensível. Passei 5 anos da minha vida com aquelas personagens, apeguei-me a elas. Gostei de rever a Shannon e o Boone, fiquei super feliz quando a Kate se lembrou da Ilha por causa do parto da Claire (esse momento que acabou por ser crucial no processo da sua redenção), adorei a parte dos coreanos e ver o Locke ser o Locke deixou-me mais emocionada do que eu esperaria, visto que nunca morri assim de amores pelo personagem (apesar de, obviamente, o preferir ao Jack).

Anyway, quando de repente, DUAS TEMPORADAS E MEIA depois de Jate (Jack+Kate como casal) estar morto, a rapariga se põe toda chorosa a dizer que o ama e ele que a ama a ela, EU MORRI! Estava já muito ciente que não fazia grande sentido ela ficar com o Sawyer e nem queria saber, mas estava super feliz com a cena de ela finalmente se ter tornado independente do triângulo e ter encontrado o seu caminho através do Aaron e do que foi ter sido mãe dele. Para mim, isso seria um fim digno para a Kate. Mas nãoooooo! Bota Jate ali, mesmo que tenham passado SÉCULOS e que não faça sentido nenhum! Porque se para a Kate ainda faz, que coitada, apanhada na rede da misoginia Lostiana, passou à vontade três quartos dos episódios todos a ser bola de ténis entre raquetes de machos, para a história do Jack, ficar ou não ficar com a Kate NÃO FAZ SENTIDO NENHUM! É perfeitamente indiferente! A história dele não é redenção amorosa, caralho!! A história dele é aprender a não ser teimoso, a confiar mais nas pessoas, a deixar-se ir, a ouvir os outros, a ter fé!

E bem, quando Jate aconteceu, o meu cérebro clicou para outras coisas... E senti-me despeitada e irritada com as insinuações redentoras que a série estava a espetar na minha direcção. Ora portanto... O Jin e a Sun fazem todo o sentido juntos, porque sempre foi assim. Ninguém duvida da Penny e do Desmond, também. Mas a minha tolerância amorosa acaba aqui. Nunca me senti tão solteira na minha vida! O amor da vida do Sayid era a Nadia, foram buscar a Shannon para ele se lembrar. O Hurley deve ter contracenado com a Libby uns quê? 40 minutos d0s 5082 que as 6 temporadas têm no total e ele lembrou-se por causa dela?! E depois a Claire com o Charlie, o Faraday com a Charlotte, o Sawyer com a Juliet... Foi para ali um love!fest que me estava a fazer contorcer as entranhas.

Peço desculpa se soo amarga, eu até sou fã do amor. Mas cada vez mais me irrita esta obsessão social do amor como o novo Messias e que sem ele a nossa vida não faz sentido. Amor é muitas e demasiadas coisas, mas a Vida é mais que isso. Ou antes, não é mais que isso, mas há amor em várias formas e, às vezes, há coisas mais importantes. Às vezes há valores e causas que se levantam acima disso. Sinto-me francamente triste que, com tanta personagem, tenham ido escudar-se em relações amorosas muitas vezes inconsequentes para o panorama geral da série para sustentarem aquele final. Acho a amizade entre Hurley e Charlie muito mais forte que o que um teve com a Libby e outro com a Claire. Acho que o Jack passou pelo menos quatro seasons a preocupar-se com mais coisas do que com a Kate (fucking chauvinist pig, anyway) e, sinceramente, tive dificuldades em perceber como raio é que ele não se lembraria com toda a situação do Locke - que até foi o story arc dele na realidade alternativa, for fuck sake! Bem, suponho que deve ter sido por isso que até foi o Locke quem mais me emocionou, talvez associado ao facto de pelo menos o corpo dele não ter acabado a trazer-nos recordações felizes.

E bem, comecei a escrever este post há dois dias e entretanto passou-me a mega irritação, por isso não há muito mais que possa dizer.

Não odiei o último episódio, mas acho que foi uma espécie de cereja no topo do bolo (pelo lado negativo) de duas temporadas fracas que não souberam alimentar a magnificência geral das quatro temporadas anteriores. Não senti o último episódio como fim da série, mas sim como fim de uma temporada em que se resolveu que nada mais importava a não ser a eterna luta Bem vs Mal, Luz vs Escuridão e os personagens foram colocados sob esse panorama.

Muita gente me diz que no fim o que importa são os personagens, mas a verdade é que os personagens passaram a ser uma sombra deles próprios na season 6. O Locke é o exemplo óbvio, já que nem Locke ele é, e o Sayid o segundo exemplo mais óbvio. A Claire é outro exemplo óbvio. E o Ben, que vira um paneleirote ao ponto de as internetes ficarem histéricas no UM episódio em que ele volta a ser psicopático (é errado eu ter ficado feliz?) também é exemplo óbvio. Mas não são só eles. A Sun passou a temporada a ser cenário, com quase nada para dizer ou acrescentar. A Sun, que era uma personagem fascinante e cheia de nuances e camadas. O Jin sem a Sun não é grande coisa porque ela, visto antes ser a única que falava inglês, era a força motora do casal. O Hurley... Sinceramente, achei-o menos fofinho e humano esta season. Fora da Ilha não (aka realidade alternativa), mas na Ilha, com tanta desgraça e tanto falar com mortos, já me andava a irritar. O Sawyer foi reduzido àquele personagem que a audiência adora e que vocaliza a opinião do povo. Sim, foi bonito quando a Juliet morreu e ele a chorar quando falava com a Kate. Mas foi só. E não me venham com conversas do golpe que ele tentou dar ao Smokie e ao Widmore porque isso, por pura preguiça e incoerência de argumento, foi reduzido ao ponto de ridículo num espaço de um ou dois episódios. A Kate confesso que até não esteve mal na season 6, pelo menos viu-se a gaja badass que nos foi prometida na season 1 e que passou a I'm-here-to-look-pretty-and-be-the-guys'-sidekick nas 4 temporadas seguintes. O Desmond não esteve muito mal... Mas odiei o que o puseram a fazer no último episódio, como foi usado como peão descartável. Achei desrespeitoso para um personagem que é, indubitavelmente, uma das melhores coisas da série e protagonista de alguns dos melhores episódios (o fim da season 2 e o The Constant vêm à mente). O Jack foi o Jack, não é? Passou de homem da ciência para homem da fé, mas fê-lo mantendo-se o cabrão teimoso e egoísta do costume.

Agora que penso nisso, e tristemente o admito, o Jack foi a única coisa coerente e bem estruturada de 6 anos de Lost. Uma pena que eu não possa com ele. Ter-me-ia tornado mais cega às infinidades que falharam gritantemente.

Não vou retirar a importância que Lost teve na minha vida. Os muitos momentos emotivos a ver episódios, a tensão, a procura de respostas, as discussões. Não vou esquecer as pessoas que me fez conhecer ou de quem me aproximei por ter a série em comum. Sim, Lost fez parte da minha vida e teve papel de destaque na minha vida cultural. Acompanhou-me ao longo de 5 anos. Esperei pela série, segui-a semana a semana, li reviews, debati. Não é a minha série preferida, porque Futurama é tão bonito e está tão lá em cima, mas vinha em 2º lugar.

Mas parece-me a mim, depois deste último episódio, que por toda a importância que Lost teve para mim, não era tão importante que, na hora de ter de me despedir de personagens a quem me apeguei emocionalmente, me conseguisse desligar das reais estupidezes a destilarem diante dos meus olhos.

E isto só é mau para mim, por isso deixem-me sentir a minha dor e não me tentem convencer que foi um bom final. Não foi.

Fiquem com o vosso luto de se terem de despedir de uma série que acompanharam durante anos, de terem de dizer adeus às personagens.

Eu tenho de fazer o luto disso tudo e ainda de ter deixado uma série partir-me o coração por não estar à altura do que esperava dela.

MJNuts

Thursday, May 20, 2010

Dia de Bicicleta

Ontem, acordei cedo. Sem despertador, sem nada que me fizesse despertar do meu sono habitualmente pesado. Acordei perto das dez da manhã. A casa estava por minha conta e o Sol reflectia o calor no soalho de madeira daquele pequeno apartamento, como se quisesse contar uma história diferente daquela que a Lua contara na noite anterior.

Sem planos, desci até ao -1, peguei na bicicleta e entreguei-me àquele dia quente, promissor de um Verão ainda mais calorento. Acho que, de uma maneira muito pouco saudável, sempre evitei, durante toda a minha vida, andar por aí sozinho. Não consigo explicá-lo, mas a ideia de ser um andarilho solitário sempre me atacou de forma negativa. Mas, agora, já não. Lisboa parece fazer os solitários ganhar uma beleza mais simples, mais limpa e hipnótica. Muito mais que isso, as ruas de Lisboa parecem ter ganho um outro encanto que só encontro quando estou sozinho. Crescer trouxe-me este pequeno prazer. Ao menos isso porque, nestes últimos meses, em que cresci mais rápido do que em qualquer outra altura da minha vida, o que esta me trouxe nem sempre foi bonito. Mas este gosto por uma cidade que pode pertencer a uma pessoa só, guardo com um carinho que só um adulto pode ter.

Para sair do Parque das Nações, subi pela Baptista Russo, cortei para o prolongamento dos Estados Unidos da América, entrei para Chelas, desci e atravessei a ponte que nos leva às Olaias, subi até à Alameda e, então, tu ligaste-me. Ainda bem que o fizeste porque, mesmo que inconscientemente, acho que me dirigia para tua casa. Gosto do que sinto quando Lisboa me trata como uma pessoa só, mas a ideia de parar em tua casa, subir até ao quarto e acordar-te com, talvez, um beijo faz-me sentir ainda melhor. Adoro o teu quarto pela manhã. Mas tu não estás em casa. Tens aulas e eu sinto-me um tolo por ter acreditado que, deitado na tua cama, ainda sonhavas com monstros e outras criaturas. Combinamos almoçar, mas ainda faltam algumas horas para isso.

Só quando desligas é que dou conta do lugar onde parei. Lisboa volta a tratar-me como um jovem (ou um adulto) que, sozinho, percorre a cidade numa bicicleta. Nunca tinha estado ali e, inevitavelmente, rendo-me aos encantos de uma terra que, de forma incansável, esconde lugares que a minha vida inteira não trará tempo para descobrir. No cimo da Alameda há um pequeno largo que tem esta vista primorosa para uma parte da cidade.


Alguns velhos estão por ali sentados e, mesmo eles, contêm aquela beleza triste e simples, coberta pelo manto fresco da sombra das árvores. Sento-me por um bocadinho e como uma ou duas batatas do pacote de Lays que trago na mochila. Sinto-me tão confortável com a t-shirt branca, os calções de ganga, as havaianas e de mochila às costas. Nela trago, apenas, uma camisola, a Educação Sentimental do Flaubert e as batatas.

Quinze minutos depois, torno a pegar na biciletra e desço a grande velocidade a pequena colina da Alameda, alcançando a Almirante Reis. Ora ando na estrada, tornando-me parte da confusão do tráfego, ora torno-me um modesto cidadão, com uma bicicleta, que atravessa as estradas pela passadeira. É como me convém porque, para mim, o dia de hoje não tem regras. Não existem sinais vermelhos, sentidos obrigatórios, passeios ou estradas reservadas para o bus, nem mesmo contra-mãos. Hoje, o Sol, o vento e a cidade fazem de mim uma pessoa livre.

Subo na direcção do Saldanha e continuo a pedalar a caminho de Entrecampos. Encontro-te junto à Estação de Comboios e faço-te companhia até à tua faculdade, onde irás ter aulas. Gosto de pedalar devagarinho ao teu lado. Gosto de conversar contigo, ao mesmo tempo que me tento equilibrar por me fazeres andar tão devagar. Tenho a certeza que não conseguirias andar a esta velocidade sem cair. Adoro o teu jeito trapalhão quando andas de bicicleta – é tão teu. Despeço-me de ti porque vou almoçar com ele e continuo a minha viagem ao longo da Avenida de Berna.

Encontro a Praça de Espanha e subo por aquele viaduto abrasador, descendo, depois, em direcção ao Campo Grande. Finalmente, alcanço a Cidade Universitária e tu já me ligaste a avisar que terminaste as aulas. Rapidamente, chego à porta da tua faculdade, mas ainda não há sinal de ti. Gostava que me visses chegar de bicicleta. Não sei porquê, gostava. Assim sendo e, convencido de que aquela é a melhor opção, não páro de pedalar. Passo a tua faculdade, dou a volta uns metros mais abaixo e torno a subir, passando novamente à frente do edifício. Chegando uns metros mais acima, torno a dar a volta e desço. Ainda não saíste. Porque demoras tanto tempo? Convenço-me de que aquilo que estou a fazer é em nome do não estar parado, mas, a verdade, é que não sei ao certo porque continuo a pedalar. Subo e desço aquele largo mais algumas vezes até apareceres à porta para me veres chegar. Prendemos a bicicleta num lugar próprio para ela, apesar de não sabermos muito bem como funciona.

Pela primeira vez em muito tempo, acerto naquilo que quero comer. Uma baguete de queijo fresco, uma coca-cola de lata e um pastel de nata. Mas isso não importa, porque o lilás que preenche suavemente a pele em torno dos teus olhos está particularmente bonito naquele almoço. Sei que tens andado um pouco doente estes últimos dias, mas continuo a gostar da tua cor. Muda todos os dias. Há sempre um tom diferente no teu rosto para eu descobrir.

Depois do almoço, mostras-me um lugar onde nunca estive. O Horto do Campo Grande. Um lugar abafado, escondido do mundo, apenas encontrado por aqueles que já o conhecem. Ah, Lisboa... por onde tenho eu andado? Ali, encontra-se uma grande variedade de plantas, árvores, flores e outros artigos para venda. Caminhamos os dois à procura de algo que não conhecemos e perdemo-nos naqueles corredores estreitos, delimitados pelas plantas, pelos quais não queres passar. Consigo convencer-te a atravessá-los e conduzo-te a lugares mais abafados, na ânsia de encontrar o que procuramos. No entanto, és tu quem descobre a passagem para o jardim onde se encontram os dois amantes: duas estátuas de plástico, velhas e já roídas pelo tempo, que representam um velho agricultor e a sua fiel companheira, de pá na mão e um chapéu de palha para proteger a cabeça do Sol. São quase da nossa altura e tu logo começas a fantasiar com o despertar nocturno daqueles dois bonecos para fins horroríficos. É uma perspectiva com algum potencial, mas, quando voltamos a passar por eles, depois de termos percorrido o jardim, já estás rendido à ideia de que aquele não é mais do que um amor intemporal, mais belo que as roseiras que os afagam.


Tens que voltar para as aulas e eu prometo ir buscar-te mais tarde, quando a minha bicicleta estiver já em repouso. Abraçamo-nos num contraste entre o branco que visto e o preto que há em ti e a bicicleta torna a entregar-me a Lisboa. Desço a Cidade Universitária até à Avenida do Brasil e subo aquela grande rua, passando por Alvalade e pela casa dos loucos. Descubro que, agora, ligando a Cidade Universitária e a Rotunda do Relógio, há um corredor vermelho, desenhado no chão, destinado apenas às bicicletas. Não que sirva de muito, pois, com todas as colinas que Lisboa tem, poucos portugueses se aventuram para além dos arredores das suas casa. A mim, dá-me um prazer enorme percorrer a cidade. Ver os loucos de Lisboa. Os pobres que abandonam o seu posto de trabalho para virem à rua fumar um cigarro. As senhoras de pernas pesadas que carregam as compras à procura de uma casa, agora, mais distante. Os mendigos que não conseguem fugir ao Sol. As crianças que faltaram às aulas. Os homens de fato e gravata que procuram o carro que foi rebocado. Os homens das obras que não cessam o trabalho para almoçar... Acreditem em mim: tudo isto vive dentro de uma moldura que não existe quando andamos de transportes públicos ou de carro.

Acho que a bicicleta é o meu meio de transporte favorito. Traz com ela uma liberdade feita do Sol quente das subidas, da brisa fresca das descidas e consegue fazer-nos chegar a todos os lugares da cidade sem que seja necessário um meio de distracção para o durante. A própria viagem é a melhor distracção que se pode ter. Lisboa não é cidade para bicicletas, eu sei, mas quero que o seja para mim. Vou fazer com que o seja.

Estou de volta ao Parque das Nações e, como combinado, dirijo-me para tua casa. Já terminaste as aulas e, desta vez, não é na Estação de Comboios que te encontro. Curiosamente, chegamos ao mesmo tempo. Mas, a verdade, é que não há nada de estranho neste incidente. A paixão que o destino tem por aquilo que eu e tu somos já nós conhecemos. Subo para o teu apartamento e deixo o meu tapete voador à porta. Mas quem vai voar és tu. Estás novamente de partida para terras londrinas e, a mim, parece-me que o que um amigo faz é passar com o seu compicha os minutos antecedentes à descolagem.

O teu cabelo continua bonito e a tua casa está inundada por um silêncio digno da nossa chegada. Tens que tratar de algo no teu computador e eu escolho deitar-me no sofá, atrás de ti. Sempre me surpreendeu a forma como pareces ter, constantemente, todos os livros que escolho ler, mas, depois, no teu escritório, não parecerem haver tantos livros quanto isso. Redescobrimos a Love Shack dos B52’s e ouvimo-la de forma repetitiva e incansável, enquanto fazes as malas à tua bela maneira desajeitada. Pões isto, pões aquilo, levas isto e, talvez, aquilo também. Livras-te de um e optas por outro, não sabes se levas aquele e, às tantas, já nem queres saber. As malas que voam contigo, nas viagens que fazes, levam, também, uma parte daquela tua criança pouco responsável e pouco preocupada. Sinto falta dela quando vais embora.

Quando tudo está pronto, temos que partir. Queixo-me ternurentemente por ter que abandonar o conforto da nossa harmonia caseira, plena e perfeita, para ter que te conduzir ao Aeroporto. Demoro mais tempo que o normal a encontrar o sítio ideal para guardar a bicicleta no teu apartamento. Não a quero entregar ao abandono triste e pouco seguro dos elevadores, mas, a verdade, é que a casa não é sítio para ela. Não foi feita para telhados, a pobre pequena, e logo mostra o seu descontentamento ao fazer de propósito para não caber nos corredores ou para não se aguentar em pé. Não tem escolha.

Deixas-me ir ao volante, apesar de se tratar do teu carro. Vou trazê-lo de volta para trás e, por isso, faz sentido que seja eu a conduzir. Para além disto, desta forma reina a ideia de que sou eu quem te está a entregar à partida. Como um pai que leva a filha para o ponto de encontro de onde vai partir a Visita de Estudo. Na aparelhagem, toca a banda sonora do This Is England. As músicas mexidas dos anos oitenta trazem-nos os sabores da noite de sábado, ainda não digeridos por inteiro. É verdade, demoramos tempo a digerir os nossos feitos, as nossas histórias. No entanto, ter ainda o McBacon no estômago não significa que seja errado comer já o Super Sundae de Caramelo Com Cobertura Extra e Bolacha Crocante. Queremos sempre mais.

Começa a faixa cinco do CD. Uma música triste e bonita, mas pouco apropriada para a nossa alegria inocente da altura. Apresso-me a mudar para a faixa seguinte, apesar de, a mim, não me fazer grande diferença. Mudei a música por causa de ti. Acho que, nesta fase da tua vida, não gostas de músicas tristes. Quando chegamos ao aeroporto, páro o carro em quatro piscas junto ao passeio onde os viajantes são deixados por aqueles que pouco dinheiro têm para o parque de estacionamento. Chegou a altura de dizer adeus, pensamos os dois em simultâneo. Lá vem o abraço esperado. Mas, desta vez, o nosso abraço tão famoso e perfeito sofre uma pequena falta de jeito e levamos mais alguns segundos até o conseguir dar. Rimo-nos porque, no fundo, aquele atrapalhamento é um jeito tão natural e tão nosso, que faz com que aquele momento pareça fazer sentido apenas com este. Abraçamo-nos com mais força do que a que costumamos fazer e sinto uma súbita vontade de chorar. Tenho andado frágil, tenho passado uns dias complicados e espero que me perdoes se começar a chorar sobre o teu cabelo de Bela. Isso não acontence porque, inevitavelmente, o abraço chega ao fim e cada um segue o seu caminho.


No percurso de regresso a tua casa, ponho a tocar a faixa cinco do CD e entrego-me à tristeza da tua partida. Podem não concordar comigo, porque sei que não concordam, mas eu defendo que as músicas que ouvimos devem estar em sintonia com o nosso estado de espírito. A tristeza pede uma música triste e a alegria uma música alegre. Não concordo com a terapia da música alegre como uma possível cura à tristeza.

Estaciono o carro na garagem, vou buscar a minha bicicleta e, de volta à rua, volto a pertencer a Lisboa. Pedalo devagarinho em direcção a casa, agora perto, com a ideia em mente de estar a fazer a última viagem do dia. Ainda não tinha chegado a casa quando me ligas a convidar para irmos andar de bicicleta. Eu já cá ando. Junta-te a mim. Chegaste do trabalho e, rapidamente, vestes algo casual e juntas-te a mim para mais uma travessia pelo Parque das Nações. Pela primeira vez neste dia, tenho outra bicicleta que me acompanha. A cidade, agora, é nossa. Não, minto. Dou um estimado valor à tua companhia, a sério, mas não consigo inserir-te naquele meu mundo e não compreendo porquê. Talvez seja porque pedalas devagar e eu sigo, constantemente, à tua frente.

O fim da tarde chegou. A noite avizinha-se. Pela rua, encontram-se agora outro tipo de pessoas. Os adultos que, antes do jantar, decidem ir correr um pouco, fazer exercício, marchar, passear os cães ou andar de bicicleta também. É toda uma comunidade que se reune ao longo do Tejo para o mesmo fim desportivo. As margens do rio passam a ser feitas de suor, de conversas sobre o fim do dia, de cães que se conhecem, de olhares cruzados, de respirações ofegantes, de choros de criança. O céu vai ganhando uns tons lilazes que muito em breve serão laranjas. Mas enquanto é o lilás que pinta o céu, eu admiro-o e lembro-me dos olhos dele, rodeados pelo mesmo tom. Durante breves segundos, compreendo a inspiração tola dos poetas.


Quando regresso a casa, é já de noite e não sou mais desejado nas ruas de Lisboa. Sem luz no meu bicho de duas rodas, arrisco-me a fazer parte do proibido por lei, caso me aventure por essas estradas fora. Mas a noite não me atrai para essas aventuras como o dia o fez. Está frio e ela já está entregue ao seu descanso merecido.

Volto a ser o André. Aquele que faz parte de uma família. Aquele que tem uma casa, um pai, uma mãe, uma cama e um piano no quarto. Não sou mais parte da cidade. Não sou mais fantasma da calçada quente. Sou um rapaz com responsabilidades, que coloca o prato na máquina de lavar quando termina de comer. Sou um rapaz que tem trabalhos para fazer e planos para concretizar. Sou alguém que perde tempo à frente do portátil.

Dias como este, dizem-me que sou um homem livre. Um homem que pode fazer e ir até onde quiser. Só tenho que ir.


Guess

P.S.: A faixa número cinco era esta.

Tuesday, May 18, 2010

Cavaquinho

Confesso que não ouvi bem a declaração, porque estava numa sala com gente a tagarelar e é sabido que o senhor nosso presidente não é mestre em dicção. Deu para ver pelas "legendas" dos jornalistas e pelas expressões faciais mal disfarçadas que Cavaco Silva não era particularmente fã do que estava prestes a fazer.

Ah e tal, semântica, união vs. casamento, só 7 países do Mundo é que chamam casamento à coisa, etc etc. Lá concluiu que não valia a pena adiar o inevitável, causando mais polémicas e distraindo o Governo - e o povo - de questões mais importantes (como aumentar-nos os impostos, diminuir-nos os salários e congelar-nos os subsídios). Somos todos pessoas, se todos temos os mesmos deveres, toda a gente deveria ter os mesmos direitos e acesso aos mesmos privilégios.

Por isso, olha, parabéns, Portugal! És pequenito, mas passaste à frente de muitos grandes com esta medida. E obrigada, Cavaco, sim? Mal posso esperar pelo dia em que serei convidada para o meu primeiro casamento gay! ^^ Amigos, vá lá, fico à espera!

E celebremos com vídeos de gente linda que já se poderia casar se vivesse por cá (ou se fosse dos tempos modernos, na verdade).





MJNuts

P.S.- Ontem foi o Dia Internacional contra a Homofobia. Nicely done, Mr. President.

Sunday, May 16, 2010

Vozes de Experiências

"Todo o mundo que eu conheci que está viajando é igual. Estão todos correndo não se sabe bem para quê e fugindo do que têm saudade."
L. A.

É ironicamente verdade. E não parecemos conseguir deixar de o fazer. Curioso.

MJNuts

Sunday, May 9, 2010

Inesperadamente

Eu lembro-me de ser ainda muito nova, pré-adolescente ou talvez adolescente recente, e estar a ver as Marés Vivas na casa dos meus avós. Era Verão. Vá-se lá saber porquê ou em que contexto, um dos personagens tem um daqueles discursos moralistas para levantar o espírito aos presentes e sai-se com a seguinte frase: "A Vida é o que nos acontece enquanto fazemos outros planos". Na altura não sabia tanto inglês como sei hoje, rabisquei a frase num caderno conforme aparecia nas legendas.

É uma citação que decorei, com a qual concordo, a que acho piada. E tenho a sensação que as melhores aventuras, as mais queridas recordações, são aquelas de momentos que não estavam nos planos. A absurdidade do imprevisto deixa-me sempre um sorriso no rosto.

Foi o que me aconteceu ontem. Quem me dera ser melhor a contar histórias. Quem me dera ter o poder dela ou dele de contar histórias. De fazer com que coisas extremamente triviais pareçam a maior aventura. Sendo eu como sou, nem o facto de ter caído num canal de Amesterdão (vá lá, a quem é que isto acontece?!) consigo tornar interessante. Costumo dizer que sou uma emotionteller, não uma storyteller. Mas esta incapacidade de contar histórias... Faz-me pensar por vezes que sou aborrecida, que não tenho nada de especial para contar, que não vivi nada de jeito... O que, tendo em conta tanta coisa, é absolutamente mentira.

Ontem tinha voo marcado para Lisboa. 16.30h, London Gatwick - Lisboa, pela EasyJet. Cheguei ao aeroporto uns míseros 5 minutos antes de fecharem a segurança para o meu voo. Fui directa às portas de embarque e até estava feliz, que só tinha de perder tempo na fila para embarcar. Mal eu sabia...

Havia uma moça na fila que me chamou a atenção. Tinha uma mala dos Beatles, olhos que me pareceram azuis (afinal eram verdes e eram muito bonitos - olhos verdes costumam ser bonitos, mas não profundos, os dela eram ambas as coisas e brilhantes também) e um casaco que indicava que ela gostava de se vestir numa onda mais navy. Numa fila tão repleta de óbvio portuguesismo, achei que ela devia ser inglesa a caminho de uns dias de férias em Lisboa. Tive vontade de me meter com ela, de ter companhia para a viagem, mas não fui capaz. É nestas coisas que as crianças são mestras e os adultos são um belo monte de caos e embaraços. Lá fiquei, lado a lado com ela na fila, lá se trocava um sorriso ou um olhar. Nada como situação semelhante para se formarem ligações frágeis de compreensão e solidariedade.

Entrámos no avião e eu já sei que avião para mim é dormir com fones bem altos nos ouvidos. Ora, o piloto começa a falar connosco... Não liguei a primeira vez, estava já a caminho da dormida. Começa uma música mais agitada a soar no mp3 que me desperta e apercebo-me que continuamos parados, todos dentro do avião. Olho para as horas e a coisa já vai tarde, assim tarde para além dos limites habituais da EasyJet. Lá vem o piloto de novo... E parece que o vulcão voltou a fazer das suas. Tantos anos em que o espaço áereo me foi absolutamente indiferente e ele escolhe este?! Enfim...

Três horas depois, é oficial. Voo cancelado. Eu devo ter problemas hormonais ou algo que valha, porque ficar stressada ou extremamente irritada só me ocorre em situações extremas e de grande intensidade emocional (aliás, a querida Twin faz questão de festejar quando me vê sair ligeiramente do sério). Ou seja, voo cancelado e eu calmamente a ponderar que havia de fazer da vida. Se ficava no aeroporto, se voltava para os meus lares de acolhimento londrinos...

O panorama era agitado. Pessoas a chorar, planos alterados, reclamações. Esperava mais manifestações típicas de histerismo português (à la velhotas dos autocarros a reclamarem da juventude e da condução do motorista ou coisa que valha), mas tive sorte. Nas filas de tentativa de lidar com os acontecimentos recentes, lá conheci uma simpática rapariga portuguesa, também a viver nas Inglaterras. Nada como pessoas simpáticas e tagarelas para melhorarem uma situação que prometia horas de tédio. Para minha surpresa, a tal rapariga navy da fila de embarque tinha estado sentada ao lado desta moça no avião e já se conheciam. E bem, passei de estar sozinha a ter duas companheiras de desgraça. Que passaram a três, quando um velhote amoroso, que pelos vistos também esteve com elas a aturar as três horas de avião que não levanta voo, se juntou a nós.

É nestas alturas que salta cá para fora o lado humano das pessoas, para o bem e para o mal. A moça navy, a L., é brasileira mas está a viver na Holanda. Está sem dinheiro e sem bateria no telemóvel, não sabe que fazer, não conhece Portugal, se calhar devia voltar para a Holanda mas não tem ninguém em casa. Acho tão lindo. Emprestam-se telemóveis, trocam-se palavras de conforto, oferece-se apoio e ajuda, transmite-se paz. A moça portuguesa, a I., tem genica e perfil de líder, claramente. É sempre bom estar com alguém assim, uma pessoa sente-se mais segura.

Na fila para o balcão da EasyJet, damos com uma desgraçada coreana, que está sozinha e vai para Lisboa sozinha porque lhe disseram que era uma cidade lindíssima e que valia a pena visitar. O inglês dela não é grande coisa, está nervosa e desorientada. E assim ao nosso grupo já de si meio insólito, se junta mais uma pessoa. A que rapidamente se juntou um senhor indiano de meia idade, ajudado pelo nosso amoroso velhote de olho azul.

Cada um de nós com as suas vidas e obrigações em Lisboa, achamos que a melhor opção é voarmos todos para Faro e de lá seguirmos de autocarro ou comboio para cima. São 9 da noite, o voo é às 6h da manhã.

Ainda ponderamos hotel, mas somos jovens e, apesar do hotel ser pago pela companhia aérea porque o cancelamento não é culpa do cliente, achamos que não vale a pena a perda de tempo em viagens para cá e para lá (quando ainda por cima se pagam as ditas viagens). E assim se montou um "acampamento cigano", como a I. lhe chamou, na área dos assentos da Starbucks de Gatwick. Com sofás e tudo. Já que tínhamos de estar naquela situação, porque não aproveitar ao máximo?

Partilhámos comida e histórias de vida. Aceitámos novos elementos no grupo, sob a forma de uma adolescente portuguesa praticamente criada em Londres. Dormimos mal e porcamente, lavámo-nos mal e porcamente, ainda tivemos tempo para ver o The Fantastic Mr. Fox e tentar avisar famílias e amigos do nosso desaire.

Senti-me bem, apesar da situação. Senti-me feliz, apesar da imagem que eu já tinha de mim deitada na minha caminha ter ido por água abaixo.

Naquelas horas, aquelas pessoas foram a minha família. Confiei nelas para me guardarem as coisas, emprestei-lhes roupa, elas emprestaram-me roupa, pagaram-se pequenas coisas. Todos juntos, sorrimos em vez de chorar. Tornámos infinitamente melhor uma experiência que à partida deveria ser de aborrecimento mortal.

Entretanto, e porque eu adoro quando a Vida nos dá presentes... A I. passou 6 meses na Hungria pelo programa de Serviço de Voluntariado Europeu. Já me borbulham as ideias na cabeça. Acredito piamente que, se estivermos abertos à oportunidade, há coisas que simplesmente vêm ter connosco, nós só temos de as agarrar.

O avião para Faro não foi cancelado. Dormimos a viagem praticamente toda. Chegados a Faro, apanhámos o autocarro para Lisboa. Também dormimos a viagem praticamente toda. Estas coisas cansam!

Em Lisboa, seguimos os nossos caminhos. Ajudei a coreana a chegar ao seu hostel e a L. a orientar a sua viagem para Tomar (e ainda levou almoço!).

Não sei se vou voltar a ver alguma destas pessoas, espero que sim, mas aquece-me o coração pensar que, durante menos de 24 horas, foram mais importantes para mim do que pessoas com quem estou várias vezes. Saber que, sob condições inesperadas, o ser humano ainda tem capacidade de dar a mão ao próximo, enche-me o peito com tal alegria e orgulho que me é difícil explicá-lo.

Espero não me esquecer das gargalhadas, dos pequenos hábitos, das histórias. Espero não me esquecer como, horas depois, podia não ser amor nem sequer amizade, mas havia uma sensação de ternura e confiança a envolver-nos, como aquele cobertor extra que faz toda a diferença numa noite fria.

As pessoas podem valer a pena. Gosto de ainda haver oportunidades para me relembrar disso.

MJNuts

Monday, May 3, 2010

"She knew what it was like, knew where it led, when you killed off a part of yourself. When you stopped letting people in, stopped allowing yourself to feel. Knew what a lonely place it was. Knew the longer you stayed there the harder it was to come back. To reach out, to ask for help, to grasp onto the hand that was reaching out. How easy it was just to let the nothing, the numbness be your friend, your lover. She knew what it was like to think there was no one who could possibly understand."

Como é que se sai daqui?

MJNuts