Tuesday, December 29, 2009

Wicked

Há fios que a Vida vai tecendo para nós sem darmos por isso. Já não me lembro da primeira vez que vi The Wizard of Oz, mas foi há muitos anos. Entretanto já revi e já comprei o DVD. É um dos meus filmes preferidos. Olhando para trás, pergunto-me o porquê deste... soul pull. Que será que tem The Wizard of Oz tem que outros filmes do género não tenham?

Gosto da história, gosto da Judy Garland a cantar. Gosto da estrada de tijolos amarelos e da ideia de um leão sem coragem ou um homem de lata sem coração. Gosto da improbabilidade da amizade e da união. É um bom filme para sorrir, para aprender, para tirar lições de vida.

Dito isto, e contra todos os meus ideais da altura, sempre gostei da Bruxa de Oz. The Wicked Witch of the West. A bruxa verde que tem medo de água. Olhando para trás, é curioso eu gostar de tal personagem. Ela no filme (e tristemente nunca li o livro de Frank L. Baum - sad mistake shall be corrected) tem mais presença no imaginário do terror dos protagonistas do que propriamente em cena. Quando em cena, parece menos assustadora do que a ideia que tínhamos dela. É uma velha louca e histérica e verde. Porque gostava eu dela, então?

Não sei. Mas até houve um Carnaval em que me mascarei de Bruxa de Oz. O verde até me fica bem.

Entretanto, surgiu um livro: Wicked. Esta obra, de Gregory Maguire, conta a história de Oz do ponto de vista da Bruxa, que aqui ganha um nome - Elphaba. O livro é fabuloso até cerca de um terço do final. Os últimos capítulos desiludem, infelizmente. Gostei muito de o ler, apesar disso. Que mais poderia eu querer se não saber mais sobre a Bruxa que sempre me fascinou?

Mas isto foi há uns anos e entretanto esqueci. Esqueci até que fui viver para Londres, ainda que este viver seja temporário. Em Londres, há o West End, como Nova Iorque tem a Broadway. E numa das partes do West End, em frente à paragem do meu autocarro, está, uma e outra vez, aquele gigantesco poster a chamar-me.


Nunca fui fã de musicais, mas este tinha de ir ver. Pela Bruxa, sim. E pelo poster também. Pela subversão que dele escolho retirar.

E lá fui, finalmente. Ver o Wicked. Ver a minha Bruxa personalizada. Ouvi-los para ali a cantarolar uma história que já tão bem conhecia, adaptada para um palco.

Para minha surpresa, de tudo o que absorvi de Oz... Filme do Feiticeiro, livro da Bruxa. O musical foi o meu preferido. E, pela primeira vez na minha vida, desejo ter sido eu a ter a ideia de escrever sobre a vida da Bruxa de Oz em vez do autor a quem a brilhante ideia ocorreu. Peço desculpa, Sr. Maguire, mas não lhe fez justiça.

Adorei o musical na altura e fiquei com algumas músicas a martelar na cabeça, mas não liguei muito. Cerca de 2 ou 3 semanas depois de o ter visto, é que me comecei a aperceber de certas coisas, é que me fui apegando ao Wicked, à Bruxa. E à Glinda, inevitavelmente.

Eu sou louca, como o somos todos, e na minha cabeça, ouvindo as canções, eu sou a Elphaba. E nunca na minha vida me tinha identificado tão fortemente com uma personagem.

Não sou verde, mas também sou diferente. Sou sociável, mas socialmente incómoda por vezes. Quem me dera ter a força de Elphaba e a coragem. Já não há muitas pessoas que se importem e Elphaba tem isso de especial. She cares. E luta por aquilo em que acredita, contra tudo e todos. Mesmo que tenha de o fazer sozinha.

Não sei explicar. Elphaba is all heart disguised in a cloak of rationality. É esperta e questiona a ordem das coisas, a imposição da sociedade. Ela tem quem a ame, mas afasta-os, pois acredita estar a protegê-los. Enfrenta sem medos as consequências das suas escolhas.

Não sou a Elphaba, porque ela é tão mais que eu. Mas olho para aquela criatura verde e magrela, com cabelos lindos e que não se sabe vestir , e sorrio e quero ser assim. Também me dói ver-me na Elphaba. We all know how that story ends, don't we? Porque é que tem sempre tudo de ser agridoce?

Por isso oiço as músicas uma e outra vez. E releio passagens do livro. E procuro histórias da Bruxa pela net fora. Há quem se inspire em artistas ou tenha grandes Homens como ídolos. Eu vou buscar forças a uma Bruxa, quando as sinto em falta.

Her pain is my pain.

One question haunts and hurts
Too much, too much to mention:
Was I really seeking good
Or just seeking attention?
Is that all good deeds are
When looked at with an ice-cold eye?
If that's all good deeds are
Maybe that's the reason why
No good deed goes unpunished


E quando acho que não aguento mais...

"Ev'ryone deserves the chance to fly!"
And if I'm flying solo
At least I'm flying free


E como em tudo o que é realmente importante, fica só à superfície o porquê de me ver nos olhos de uma Bruxa.

E como não podia deixar de ser, não comigo, eu leio e oiço e vejo a Elphaba. Mas é a Glinda que me prende.

MJNuts

Sunday, December 27, 2009

Maturidade?

Ontem depois do jantar, em família, e sabe-se lá porquê, veio à baila o tema da maturidade. Disse-se o já sabido que, socialmente, o atingir da maturidade chega aos 18, mas há crianças com 8 ou 9 anos que já têm mais maturidade que adultos muito para lá dos 18. Disse-se que não vale a pena procurar a maturidade, que a vida encarrega-se disso.

Disseram-me a mim que maturidade é um desejo de assentar, de querer estabilidade. É diferente de querer casar e ter filhos como o mainstream parece sonhar. Maturidade é assumir as responsabilidades. É parar e criar a nossa vida à nossa volta. Acabar um curso e arranjar um trabalho, mesmo que não se goste muito dele. É manter esse trabalho porque o dinheiro faz falta, mas usá-lo para alimentar outras paixões. Não se gosta de estar atrás da secretária, mas gosta-se de teatro e fotografia. Há tubos de escape. São tubos de escape para a maturidade?

Maturidade é ser casado e ter dois filhos e de repente acordar-se com vontade de não ter nada disso, mas ficar mesmo assim, porque é nossa responsabilidade para com os que amamos.

Foi o que eles disseram. Ainda estou para decidir se concordo ou discordo. Tenho noção de que não sou a mais madura das criaturas de 23 anos, mas independentemente do meu caso, se alguém tem 50 anos e é missionário e toda a vida viajou pelo mundo a ajudar os mais necessitados sem nunca parar, sem nunca comprar uma casa e fazer uma vida à sua volta, essa pessoa é imatura?

Até que ponto maturidade está associada ao conceito de assentar? E será "assentar" outra forma de dizer "parar"? Ou "assentar" vem sob diferentes formas? Se aquele missionário de 50 anos decidiu conscientemente passar assim a sua vida, se é isso que o faz feliz, não será possível que ele tenha assentado na sua mobilidade? Eu acho que é.

Também acho que maturidade é mais do que a idade, mas que com a idade vem muita coisa. Tenho a sorte de conhecer gente de muitas faixas etárias. Já vi putos de 16 anos estúpidos que nem uma porta e miúdos de 17 anos capazes de chegar muito mais além, de pensar racionalmente e de assumirem a responsabilidade dos seus actos e decisões. Mas a verdade é que, em certas coisas, em certos momentos, nota-se sempre que aquela pessoa tem 17 anos e não 25. Maturidade chegada cedo não nos torna mais sabedores sobre a vida, só nos torna mais... maduros.

Um puto de 18 anos é sempre um puto de 18 anos. Não interessa que tenha tido o pai em coma ou que a melhor amiga tenha cometido suicídio. Ficam dores e aprendizagens que se a Vida fossem rosas, nunca chegariam, mas há erros que ainda têm de ser cometidos. Há pequenos pedaços de ingenuidade que têm de desaparecer, porque a magia dificilmente dura para sempre e dá lugar ao cinismo e ao despeito.

Por isso, não, não sou a mais madura das pessoas da minha idade. Muitas já trabalham e já têm a sua vida delineada. Eu não tenho nada. Estou quase a acabar um curso que não quero exercer. Não quero encontrar um trabalho para me prender, mas também não quero fugir. Eu sei o que preciso e o que procuro.

Tenho uma inquietação em mim que há muito cá anda. Mas a Vida acontece e faz-nos crescer e crescer também é conhecermo-nos melhor. Eu, para já, não quero a vida normal, porque nela não encontro serenidade. É isso que eu procuro. Serenidade. Encontrei-a uma vez e deixei-a escapar, por isso agora carrego diariamente nos ombros o peso de a ter perdido. Mas tenho esperança que algures aí, à espreita, esteja algo ou alguém para me agarrar e me impedir de fugir e me mostrar que vale a pena ficar.

Até lá, vou dando passos leves aqui e ali, nunca estando realmente em lado nenhum. Até lá, sorrio e converso e rodeio-me de gente e às vezes atinjo uma quase-completude e outras vezes quase me entrego por inteiro. Mas a verdade é que ainda não estou inteira. E até estar, eu terei de bastar-me a mim mesma e encontrar força nos que me amam.

MJNuts

Monday, December 21, 2009

O Natal Não Precisa de Pai Natal

No dia 19 de Dezembro de 2009, o Jardim Zoológico de Lisboa abria as suas portas para receber o Consulado de Angola. Os visitantes regulares do Zoo pouco ou nada importavam nesse dia, pois, no Natal, a quantidade de empresas que visita aquele local para ver golfinhos saltarem prevalece às famílias portuguesas de classe-média, que apenas desejam descobrir o que é um Okapi.

740 crianças, 14 monitores, 7 grupos, 8 seguranças e 2 Pais Natal. A verdade é que quando nos dizem que o nosso trabalho não passará de uma mera distribuição de presentes e balões, não podemos nunca imaginar que iremos fazer parte de algo feio e contrafeito. Angola é a terra dos opostos. É um dos países com maior riqueza no mundo, mas é, ao mesmo tempo, um país onde encontramos o lado mais horrendo da pobreza.

Cá em Portugal, o Consulado de Angola dispõe de um conjunto de serviços simpáticos que levam, por exemplo, os angolanos residentes em Portugal a uma visita ao Jardim Zoológico. Mas o propósito desta visita supera em grande escala aquilo que os presentes, os balões, as músicas e as cores nos transmitem à primeira vista.

Há um embaixador. Um embaixador que gastou mais de 100 000 euros para promover a sua imagem e ganhar prestígio na sua terra longínqua. Este embaixador não pode sentar-se nos assentos da plateia, onde todo o seu povo assiste ao Espectáculo dos Golfinhos. Sem o seu lugar VIP habitual, este embaixador precisa de almofadas para não machucar o seu rabo. Este embaixador precisa também de 8 seguranças que, para além dos seus fatos pretos, óculos escuros e auriculares, recebem sem problemas mais de 1500 euros por estarem ali. Mas este segurança tem tudo pronto para que as crianças se divirtam e possam ir para casa sem se esquecerem de quem arranjou tudo aquilo para elas.

Há uma tenda. Uma tenda enorme que dá abrigo a centenas de presentes para rapazes e para raparigas. Nessa tenda existe ainda um altar sinistro, onde repousa sobre uma mesa devidamente centrada um retrato do embaixador, cercado por uma moldura dourada e resplandecente. As crianças são obrigadas a fazer uma fila no exterior e a esperam ansiosamente a sua vez de serem compradas. Os pais ficam lá fora, claro. Não queremos que eles tenham a oportunidade de olhar para aquela montra colossal e escolher o presente que os seus filhos mais certamente iram gostar. Não, os filhos recebem aquilo que receberem. Se tiverem nome, dinheiro ou influência recebem um presente mais caro e mais espectacular. Se não tiverem nenhuma destas virtudes devem ficar felizes com uma bola de futebol ou um patético boneco do Rucca que nem sequer sabe cantar. E quem tem o poder de escolher e de entregar em mão o presente mais apropriado se não o embaixador e a sua mulher, a cônsul? São precisas fotografias que reportem a bondade destas duas pessoas e é preciso que as crianças saibam o que elas são capazes de fazer. O quê? Não gostas de futebol? Vais passar a gostar.

Depois de receberem o presente com o desdém mais inumano, que se figura numa empatia artificiosa nos breves segundos do click da máquina, as crianças são rapidamente conduzidas para fora da tenda. Lá dentro, no quentinho, com cadeiras para descansar e mesas decoradas com doces e aperitivos, ficam somente as crianças sortudas que têm pais fantásticos com muito dinheiro.

O Pai Natal pouco ou nada importa nesta acção solidária. Ele não pode dar os presentes porque não sabe o que é que cada criança pode ter. Não! Essa criança não leva esse presente. Onde é que vais com esse embrulho, Pai Natal? Pai Natal, desvia-te mais um pouco que estás a tapar o embaixador na fotografia. E enquanto um fazia o que podia para distribuir estes presentes de forma mais justa, o outro Pai Natal estava sentado na sua mítica poltrona, junto a uma bela e luminosa Árvore de Natal. Ele era como se fosse a figura que tinha dado uma pequena ajuda ao embaixador na concretização deste dia inesquecível. Mas o verdadeiro Pai Natal, o verdadeiro Senhor Bondoso de Barbas Douradas e Cinto de Cabedal era o embaixador. O pequeno cenário deste Pai Natal parecia algo pobre e triste, esforçando-se para se fazer notar, ao lado direito do pedestal do verdadeiro senhor.

Mas não faz mal porque as crianças que viam o Pai Natal lá de longe e que eram empurradas novamente para o exterior da tenda podiam contar com um fantástico espectáculo de magia e de palhaços, com muita música e muitas bolas de sabão. Só que por vezes estas manobras extravagantes, que tapam as verdadeiras intenções, podem ser perturbadas. Não se deixem comprar! Não aceitem este dinheiro corrupto! Não aceitem os presentes!, gritava ele. São perturbações de solução rápida e eficaz. Nada que uma música alegre, conffetis e dois seguranças brutamontes não resolvam e varram para longe.

Quando foi a minha vez de abandonar a tenda, dando os meus serviços por terminados, os presentes ainda existiam às centenas e a cônsul já ordenava, atrás de mim, que fechassem as portas e não deixassem entrar mais crianças. Cá fora, elas gritavam e empurravam-se para entrar, mas já era tarde. As que já tinham o seu presente corriam desvairadamente à volta de um Palhaço que já não conseguia sorrir. Quando olhou para mim, mostrou-me a maquilhagem da sua cara, borrada e garrida. Encolheu os ombros e sorriu com uma expressão que lamentava todo aquele teatro inevitável e incontornável. Afastei-me dele sem o poder salvar.

Não contem comigo para o próximo ano. Feliz Natal.


Guess

Tuesday, October 27, 2009

Wednesday, October 21, 2009

Aprendizagens

"You always seem to have to miss out on something to enjoy something else... Às vezes acho que crescer não é mais do que aceitar isso com serenidade: que não podemos ter tudo embora queiramos (e nos sintamos no direito de!) ter."

Obrigada, Lili.

Friday, October 2, 2009

The Cute One

What's it with me and drunk people? Do I look like I can take care of them? Maybe I do, because apparently I can finally look after myself.

I don't feel comfortable being the prettiest girl in the room. It doesn't say much about the beauty present. But it's okay 'coz you're clearly the most lovely. No need to be drunk to come talk to me, I can speak with sober people.

So you're British, but you don't look British. And are your eyes really greenish or are those contact lenses? You're out in clubs almost every night. Sorry, that's not me. But you're nice and this meeting's sucking anyway.

My legs hurt and you're drunk. And we have to leave the bar to go to the club. We are obviously a lousy combination. It's no wonder we are lost only five minutes later.

I don't mind. Do you? I get lost so often that I don't really care anymore. I just ask for directions. You look happy and definitely not worried. But it may be the alcohol. Your friend keeps calling you:

"Who's the girl with you?"
"Maria."
"The cute one?"
"The cute one."

He calls and calls and calls again. And he's not very useful 'coz we are still lost somewhere in Soho. And you're hungry and have a craving for Subway, but you keep stopping in every bar and restaurant anyway. I have to remind you of your craving. And you get overly excited over a Costa Café (their hot chocolate sucks, so I won't be their costumer again) and I learn that you've been wanting to go to the toilet for ages.

You go inside and you don't buy anything and you go the wrong way. And I have to go grab you and take you the right way 'coz I don't even know your name. But we're lucky and the lady there is very nice and she doesn't even care that I have a stolen beer glass on my hand and that you are not on your finest. She teaches me the way to Tottenham Court Road, but I know that I can only learn the first half of it. It's enough for now.

My throat is sore and my voice is huskier than usual, so I don't speak much. We have a silent agreement, so it's alright. I lead the way after we leave Costa and you're surprised that I know more than you do despite being here for only a week and a half. I've been looking at you for almost an hour and it's the first time I -see- your smile and it's the first time I realize there's a sweetness to you. I haven't been paying attention, you know? Because of you, I'm breaking a promise: I should be home already.

"How can you possibly know this place more than I do if I've lived in Central London for 3 years?"

You're drunk, baby. And finally there's a Subway and you totally go out of your way to get there. And you buy a 30-inch sandwich with lots of meat and then you buy me a cookie. I can't thank you enough. But you'll never know that. Kindness. It will always be my weakest link.

I ask directions again, but the Subway guy isn't the best GPS. There's always someone else. And so we finally get to Tottenham Court Road. You look cute, embarassed because you ate your sandwich like it was the end of the world. You don't have to worry, I don't care about that. I'm just lost inside my own head and for me you're only the nice girl I'm stuck with. The nice girl that has nothing to do with me. The nice girl that probably will have forgotten me after the alcohol goes away.

It's a 10 minute walk from Tottenham Court Road to the club. I'm tired and I don't really want to go there, but I can't leave you alone, can I? So I walk, slowly, behind you. You're taking the lead now 'coz you know the name of the street.

We finally get there and I don't know what to feel. There's a queue. It's lame to queue for a club. But what can we do? Your friend's in there.

You ask me if I'm leaving after you get in and I say yes, but then I regret it and say I'll just take a look around. It's free entrance, so why not? We're at the door and they're searching everyone's clothes and purses for whatever. British people are paranoid. You're clean, you get in.

I have the stolen beer glass. I want it. I kept it for a friend or for myself, I don't know yet. I can't go inside with the glass. So I look at you and you're already going downstairs, you know you're not lost anymore.

I'm sorry, but I prefer the glass.

Sorry for not saying goodbye. I have been running all my life. Hope you're safe now.

MJNuts

Tuesday, September 8, 2009

Comforting Sounds (O Cemitério de Benfica à Noite)

Eram uma e tal da manhã quando, ontem, subimos por aqueles caixotes e saltámos os muros altos do Cemitério de Benfica.
Uma pequena estátua da Virgem Maria descansava sobre aquele muro altíssimo.
Um passeio que deve ter durado pouco mais que uma hora em que me desafiei a mim próprio a sentir-me cem por cento confortável e relaxado naquele lugar.
Forçámo-nos a ir a todos os cantos daquele cemitério gigante, especialmente aqueles que não nos agradavam visualmente e não nos inspiravam confiança.
Confirmámos que todos os estereótipos que os filmes nos mostram sobre os cemitérios à noite são tudo verdades. As sombras, os corvos, as intermitentes lâmpadas vermelhas das campas, os barulhos não identificáveis, as luzes ligadas de salas preferencialmente vazias, os corredores largos e intermináveis, protegidos de ambos os lados por árvores de tronco espesso, as formas estranhamente humanas que identifcamos no escuro, a lua quase cheia que ilumina as lápides.

Dizíamos não ter medo, mas nunca ninguém consegue ficar indiferente a sons que surgem bem perto de nós.
Dizíamos não ter medo, mas aquelas lâmpadas vermelhas e pequenas, que iluminam as lápides, criam um espectáculo arrepiante.
Dizíamos não ter medo, mas era sempre perturbador reparar como zonas do cemitério faziam lembrar pracetas ou ruas habitadas por pessoas vivas.
Conseguimos o nosso momento de paz, é verdade. Sentámo-nos os três num banco, que nos entregava uma vista macabra para um longo descampado, onde os mortos sem dinheiro mereciam apenas um pedaço de terra e uma tabuleta com um número identificativo.
Conseguimos ficar sentados alguns minutos sem proteger as nossas costas.

Quando nos levantámos, nenhum zombie com a respiração pesada aguardava que reparássemos nele.
À medida que nos aproximávamos da saída - entenda-se, o lugar onde secretamente trepámos o muro - o nosso passo aumentava de ritmo. Ouvíamos sons cada vez mais estranhos. Flores nas portas de jazigos pareciam-nos mãos de pessoas a tentar sair, caminhos começavam a não ter saída.
Encontrámos o lugar por onde entrámos e demos uso a um daqueles escadotes metálicos, necessários para o manuseamento das gavetas dos mortos.
A última pessoa escolhida para abandonar o local teme sempre que algo de errado aconteça e não haja tempo para escapar.
A Virgem Maria continuava no seu lugar, à nossa espera.

Os cemitérios são lugares bonitos. À noite continuam a ser bonitos e são, na verdade, mais seguros que qualquer outro parque público em Lisboa.
Talvez faça parte daquela beleza horrível, mas a mim não me agradam as falsas velas. As pequenas lâmpadas que funcionam através de energia e simulam velas de verdade. São feias. Estão quase sempre intermitentes.
Talvez tenha sido por isso que, quando voltámos ao muro de gavetas, que foi a nossa porta de entrada e de saída aquela noite, estava uma vela de verdade acesa.Iluminava suavemente a gaveta de onde estava suspensa.
Eu tenho a certeza, e ninguém me tira esta certeza, de que quando entrámos para o cemitério, uma hora antes, aquela vela estava apagada.


Guess

Wednesday, August 5, 2009

A Insustentável Leveza do Ser

Milan Kundera faz-nos mergulhar na humanidade que somos todos nós...

"O amor não se manifesta através do desejo de fazer amor (desejo que se aplica a um número incontável de mulheres), mas através do desejo de partilhar o sono (desejo que só se sente por uma única mulher)."

"Para um amor se tornar inesquecível é preciso que, desde o primeiro momento, os acasos se reúnam nele como os pássaros nos ombros de São Francisco de Assis."

"Mesmo nos momentos da mais profunda desordem, é segundo as leis da beleza que, secretamente, o homem vai compondo a sua vida."

MJNuts (in great need of truly sleeping)

Friday, July 24, 2009

Músicas intrometidas

De vez em quando acontece-me vir uma música à cabeça que, de alguma maneira, reflecte o que se está a passar naquele momento comigo. Coisas tão simples como estas:

Chegar à despensa e descobrir que a lata de bolachas está quase vazia, e sabendo que não lhe tenho posto as mãos em cima nos últimos dias, Zeca Afonso junta-se a mim em indignação - Eles comem tudo, eles comem tudo! Eles comem tudo e não deixam nada!

Ou passar a noite a filmar num telhado, a ver o actor a atirar-se pelas telhas vezes sem conta e a rezar que, se lhe escorregar o pé, ao menos tenha o bom senso de aterrar no colchão ou nos Aloés Vera por ali plantados. O Jim Morrison foi mais dramático, mas mais poético: This is the end, Beautiful friend, This is the end, My only friend, the end...

Houve outras, mas para se perceber a piada tinha de entrar em grandes explicações - e depois perde-se a piada, é o mal das anedotas explicadas!

Não tiveram cenas parecidas? Partilhem as vossas tretas musicais neste canto!

Giovanna

Tuesday, July 14, 2009

"Já não se sabe quem mente e quem fala verdade em Portugal"

As actividades deste blog andam bem interessantes, e bastante mergulhadas no fascinante mundo da música (mais uma vez, obra da nossa MJ, que bem tenta alargar a nossa cultura musical); por isso peço desculpa por atirar para aqui esta peça, mas até pode ser que me perdoem quando a virem...
Hoje enviaram-me o link deste vídeo, e apesar de ser bastante longo vale bem a pena parar pelos 30 minutos de entrevista de Mário Crespo ao advogado Henrique Medina Carreira, passada na SIC Notícias (e acho que esta é a única publicidade gratuita que faço a um canal SIC, porque realmente é o único canal de notícias que vale a pena ver!).
E mesmo que não tenham resistência para ver até ao fim, creio que os primeiros 4 minutos já vos devem satisfazer!



Giovanna
(sim sim, ainda aqui ando...)

Tuesday, July 7, 2009

Porque me Falhas, Música?

Sabem aqueles momentos em que precisam desesperadamente que uma música se enquadre no que sentem e não a encontram? Será que isto acontece muitas vezes? Será que já aconteceu a alguém? Não sei, mas está a acontecer-me agora e só me faz sentir mais confusa e sozinha e com vontade de expulsar da cabeça o que insiste em espreitar no coração.

Estás, Música? Porque só pequenas partes de ti me servem?

"Still the wanting comes in waves"

"Oh this feeling, I've known you to be hidden, but I find you barely breathing, still holding on"

"Quem é mais sentimental que eu?"

"Everybody, everybody just wanna fall in love"

"Help, I'm alive, my heart keeps beating like a hammer"

"Oh you bloody mother fucking asshole"

"Get me a lover who will leave my head alone"

"You got me off the sofa, just sprang out of the air, the best things come from nowhere"

"I'm trying not to think about you, can't you just let me be?"

The Wanting Comes in Waves/Repaid, This Feeling, Sentimental, Sick Muse, Help I'm Alive, Bloody Mother Fucking Asshole, São Paulo, Made Up Love Song #43, Almost Lover

MJNuts

Saturday, June 27, 2009

Por Ti Faço o Jeito, Majestade

Não sei se deram por isso, mas este é o meu post n.º 100. Não que isso seja motivo de orgulho, considerando que o Tretas tem quase 3 anos de idade, mas 100 é sempre um número redondo que se gosta de festejar. E bem, eu queria festejá-lo com um post ridículo e repleto de tretas, provavelmente a partilhar um manual de instruções da máquina de incoerência que sou eu.

Mas o Michael Jackson morreu. E o Michael Jackson foi um artista que me acompanhou ao longo da vida. Como fã, desde os 11/12 anos. Não sou fã acérrima nem nada que se pareça, mas vos digo aqui que era o único artista no Mundo por quem eu seria capaz de dar mais de 40€ para ver em concerto. Dito isto, é curioso que o único artista por quem eu faria tal coisa, seja também o único capaz de fazer esgotar 50 datas de concertos na mesma cidade. Será que tu também lá chegavas, Madonna?

Não me vou perder em considerações pessoais do que o homem fez ou deixou de fazer, do quão estranho ou solitário era. Para mim, o que interessa é a música. E confesso que a minha tendência foi sempre acreditar no Michael Jackson, por isso não quero entrar em debates filosóficos sobre os momentos chocantes da vida dele.

Celebremos a música.

A 1ª que ouvi dele foi a Earth Song. Devia ter os meus 8 anos, estava no carro a caminho do Alentejo, era de noite e lembro-me como se fosse hoje. Os "ah ah ahhhh" penetraram-me o cérebro e por lá ficaram, a habitar as profundezas, ao ponto de eu nas noites que se seguiram, ao deitar-me, fechar os olhos e ouvir claramente aquela voz, ainda desconhecida, na minha cabeça. Ao ponto de, alguns anos mais tarde, reconhecer aqueles "ah ah ahhhh" vindos de uma televisão e conhecer, finalmente, o Michael Jackson.



Esta é, ainda hoje, uma das minhas músicas preferidas dele. E um dos meus videoclips preferidos de sempre, por ter um tema que me toca tão profundamente.

Mas há muita música do Michael que adoro e há que convir que os videoclips dele eram tão obras-primas como os respectivos singles. Mantendo a temática da Terra, há o so-very-sweet Heal the World, que não me diz tanto, mas que me faz sorrir. Tentaste, Michael, eu sei que sim.




Eu tenho um guilty pleasure Jacksoniano que não sei se é partilhado por muita gente, mas aqui vos ofereço um pouco da minha sensação agridoce de amor por Who Is It. Adoro a música, mas não percebo. Quem te magoou, Michael? E o videoclip é, na minha opinião, estrondoso.



Há duas outras que me são bastante pessoais. Have You Seen My Childhood? e Stranger in Moscow. A primeira porque eu sou, declaradamente, uma pessoa que não fez muito bem a passagem para a idade adulta (e porque me diagnosticariam com Síndrome de Peter Pan?). Ando para aqui num limbo estúpido. A segunda porque se encaixa demasiado bem em tantos momentos de solidão e dúvidas existenciais.



Escusado será dizer que ambos os vídeos são fabulosos. Fly to Neverland, kids! E o clip de Stranger in Moscow na altura foi pioneiro em algumas das técnicas utilizadas.




É verdade, sim. A maior parte das pessoas elogia o Michael Jackson pelos seus hits (muito) antigos, mas eu sou moça de apreciar a glória do Michael dos 90. Obviamente que adoro uma quantidade imensa de singles dos primórdios!

Tipo este:




Também sou bastante aficcionada deste aqui:




E adoooooro esta:




E podíamos continuar noite dentro comigo a destilar oldies preferidos do Michael. Mas eu realmente sou moça dos 90s, foi neles que cresci, e quero dar-vos overdose disso. Antes de enveredarmos pelos excelentes singles com maravilhosos clips que todos achamos de génio, só uma pequena nota para dizer que uma das minhas músicas preferidas do Michael nem sequer é single e passou ao lado de muita gente. Mas vale a pena: Little Susie. Arrepiante.

Listemos os restantes pedaços de Deus que caíram sobre o Michael:

1. In the Closet (sou só eu que acho esta música imensamente sexy?)



2. They Don't Care About Us (esta música, e ambas as versões do seu videoclip, são absolutamente avassaladoras! e estou a ficar sem adjectivos, estou...)


Já agora, a outra versão está aqui.

3. Cry (esta tecnicamente é dos 2000, mas que importa?)




4. Scream (olhem-me só o videozão que isto tem, pah! e os irmãos! eles davam-se!)



5. You Are Not Alone (só porque é tão fofa e romântica e...)




Estou nostálgica... Michael Jackson é daqueles artistas para lá de pessoa: é ícone, é mito. Não é suposto morrer... E morreste-me, Michael?

Despeço-me de ti com a música tua que me faz chorar...



You are not dead, you just went missing for a while. You will be there, won't you?

MJNuts

Thursday, June 4, 2009

De Regresso à Música

Já vai algum tempo desde que postei alguma coisa que se parecesse remotamente com um top musical. E pensar que nos primórdios deste blog prometi que o faria mensalmente... Mas bem, a verdade é que a vontade de ouvir música me abandonou por algum tempo. Muito tempo, até. Ao ponto de o meu mp3 ter pifado e eu não sentir a mínima necessidade de o substituir. O silêncio nos transportes públicos não é assim tão mau.

Mas pronto, seja lá o que for que me deu, a música voltou a entrar em mim. Bem-vinda sejas! E aqui ficam alguns exemplares de amores modernos...

1. Lily Allen - The Fear
2. Bon Iver - Flume
3. Alela Diane - White as Diamonds
4. The Brian Jonestown Massacre - Anenome (preferia a Fucker, mas é o que há em condições decentes)
5. Au Revoir Simone - Stay Golden
6. The Pierces - Secret
7. t.A.T.u - How Soon Is Now
8. Humanos - Quero É Viver
9. The Boy Least Likely To - Be Gentle With Me
10. Metric - Sick Muse

That's all, folks.

MJNuts

Friday, May 29, 2009

Otalia

E bem, só porque este blog também é meu e porque isto vai mal de posts e eu posso postar sobre o que me apetecer...

Apresento-vos a Olivia Spencer:


E a Natalia Rivera:


They look great together, don't they?





Também vos posso apresentar a Jessica Leccia e a Crystal Chappell...


Outra vez, vá... Crystal Chappell:


Jessica Leccia:


E bem, a Jessica Leccia está grávida, o que pode ser um pouco chato na hora de contar uma história que NÃO envolve gravidezes... Mas digam lá, esta mulher não brilha? Agora já sei o que querem dizer as pessoas com aquela conversa do brilho das grávidas.


E sim, estas malonas exageradamente grandes servem para tentar disfarçar a criança de 5 quilos que deve andar ali por dentro!


Porque estou eu carregando este post de fotos destas duas senhoras? Porque hoje estou assim fútil e os sótãos também têm direito a ser agraciados com belezas naturais.

Também ajuda que a história destas duas mulheres seja a mais bonita história de amor que alguma vez vi na televisão. Bem, no meu caso, no YouTube. Mas vocês percebem. Queria também que soubessem o ridículo de a melhor história de amor da televisão actual estar numa novela. Numa telenovela. Soap opera. Americana. A sério. É patético. Parece que afinal aquela ideia absolutamente pavorosa de uma novela durar anos a fio tem o seu lado positivo. A novela chama-se Guiding Light, já agora. E é apenas o programa de TV com maior duração de sempre (no ar desde 1952!).

Voltando ao que interessa, eu fiquei realmente espantada por de facto levar a sério duas personagens de novela. Mais do que levar a sério, passei a adorá-las. Às duas. Sem saber bem qual delas gosto mais, o que é raro e estranho em mim. Mas a sério, como é possível resistir a estes olhos?


E a estas covinhas?


Nope. De facto não apetece escrever. As imagens falam por si. Nem por isso. Não para o que quero dizer.

E o que quero dizer é que, num meio inesperado - o das telenovelas, e entre duas personagens antagónicas, nasceu o amor. Nasceu devagar e em circunstâncias inesperadas. Passaram de se odiarem a tolerarem-se. De se tolerarem, passou a uma entreajuda frequente e daí à amizade foram mais uns passos. Na amizade, tudo se começou a confundir e os sentimentos cresceram. Tudo isto num passo lento, cuidado, enquanto vemos desenrolar diante dos nossos olhos um amor imenso que aparece sob tantas formas que já nem sabemos o que é o quê... Nem elas sabem, aliás.

Os meus genes shippers não se importam com pormenores. Podíamos estar a falar de um cão apaixonado por um elefante, desde que isso fosse bonito. São duas mulheres? São, sim senhora! O amor não escolhe sexos nem idades nem estratos sociais nem religiões... Aparece e pronto. Pontapé já nos rótulos mentais que se devem ter formado nas vossas cabecinhas! É só uma história de amor entre duas pessoas que se redescobriram e encontraram paz uma na outra. And it's so freaking cute and beautiful and sweet and sexy that I can't stop smiling when they're on my screen! Go, Otalia!

Vídeo de apresentação:



É só um music video fofinho. Podia apostar em algo mais cómico, mas temo os spoilers e não quero estragar as surpresas à alma solitária que resolver arriscar experimentar depois deste meu muito pouco convincente post em que acho que consegui mostrar total ausência de pensamentos coerentes. Não interessa. É uma história de amor que vale a pena, era só essa a mensagem que queria passar.

Caso vos dê o aborrecimento total e queiram experimentar (perigo de vício), deixo o link da minha playlist Otalia no YouTube. Sim, sim, mais um vício à MJNuts, a juntar a outros tantos ships e outras tantas séries... Está por ordem cronológica, portanto não há como não perceber o que se passa.

Peço desculpa por esta parafernália de divagações. Ah, as liberdades bloguísticas...

MJNuts

P.S.- Já referi que a Olivia tem uma filha?


Emma ou Jellybean para a mãe e os fãs. Não posso esquecer de referir que esta é uma história de amor que vai além do desejo e das paixões fast-food tão características dos dias de hoje... Na realidade ou na ficção. Otalia pode ser exasperadamente lento por vezes, mas é uma história que tem os bons valores e princípios no sítio certo. E é também sobre a família.

Monday, May 18, 2009

You Look Great (When I'm Fucked Up)

My mouth tastes like alcohol. When my lips are wet, I feel the sweetness of the drinks unnamed, but then I breathe in and breathe out and my tongue, my teeth become dry and my breath is sour.

I close my eyes and go back. I go back to the moment when I decided to get drunk. I see myself drinking without caring and it feels good, but it is not enough. I need more. But we stop and go away, change places.

When I drink, people are beautiful. I'm attracted to people I was never attracted before. I don't care if they're boys or girls, if they're too old or too young. I just want to kiss someone.

I'm flirty. I never hit on anybody, because that's not me. I flirt and I tease and I'm a tease, because how can I not be a tease when I'm not sure of what I want?

My head is light, but the alcohol is vanishing. I need more. "You have to pay to enter the bar." I will pay if it's not too much, I will pay if whatever I pay, I drink.

Two shots. I asked for the strongest, but they don't taste that strong. So I flirt and the bartender complies. "I'll give you four, if you buy two." And the guys buy me the drinks and I drink another two shots in a row.

It takes a little while for the effect to fall upon me. I share the flavoured Marocco tobacco with the boys, but it's banana and I'm not fond of banana and the taste is too subtle... I don't care. I like the smoke. I like its warmth inside my mouth. I like the way it flows around my head, the way it goes up, the way it leaves my lips and my nose. I love the way it dances around me, the way it seduces me.

I close my eyes and all I see is the glasses in front of me. The glasses full of alcohol that is now strong, but that doesn't taste good anymore. I have a vague notion of the atmosphere, of the voices, of the colours surrounding me, but I don't care. The liquid is greenish, yet transparent. It's beautiful. It should taste good. Shouldn't it?

I like the guy next to me. You look great when I'm fucked up. I like his weight on my leg. I like his hoarse voice. I like his head and the way he smiles. But though drunk, I'm over-conscious and I hate the thought of intimacy in front of others. What intimacy? It wouldn't be intimate. I'd only like a kiss. A peck, really. It's a shame I'm not really into him or I'd give it a try.

And it strikes me then. Why it is that some people just go around fucking everyone else. The glamour of that life seems obvious. I suddenly realise how easy it would be to live like that. I somehow wish I was made that way. I pause. And then I believe I could be like that, if I wanted to. But now is not the time to start living that way.

It grows too hot where I'm seated and I need to leave. People are warm and I need the cold. I stand up and go to the bathroom. I pee. Fortunately or unfortunately, I'm ever the conscious drunk. I never forget. I never let go of the sober me. I know everything. I sit down on the floor and then lie down and then sit again.

For a moment there, I understand why people become addicted. Why there are people getting drunk every week, every day. Why there are people getting high. It's all too easy. The mind focuses on the good things and the responsabilities are forgotten. The body half-controlled feels funny.

A girl comes in and asks if everything's alright with me. She's blonde, I don't really see her well, I don't know if she's pretty. But I love her anyway. If someone asked me what my favourite gesture is, I'd say kindness to strangers. I tell her I'm ok, that I just need to feel the cold and she smiles and goes away.

I get up and wash my face, my mouth. How can a liquid make you feel so dry? How can something so sweet suck up all the sugar in your body?

I go back to my place, between the boys. But it's still too hot and I don't feel good. The bathroom is safer. The bathroom floor is perfect. I love the cold under my bare arms. And I suddenly remember why I don't like alcohol, why I hadn't drink for so long. Alcohol is heavy and inconstant. You drink too little, it's meaningless, you drink too much, it becomes painful.

It's not painful, yet. It's just no fun anymore. And I grow weary of the people around me and I find them pathetic. Most of them. I still like the boys, the ones I never cared about. But it makes no sense to me that all that these people have in common is the place where they work. And it disgusts me.

We leave. I have lost my card, I should pay a fee for that. But the bartender is feeling guilty and says my shots are on the house. The night is ending and I haven't spent a cent. I secretly smile. He's an idiot. He shouldn't feel guilty over other people's irresponsabilities. Had I been sober, I'd have gone back and give him the money. I pay my dues.

I need water. Not to drink, but to wet my mouth. There's this guy. He's older, but he's nice. And he's being kinder than I ever recall him being. He goes back inside the bar, brings me a bottle of water. I wonder if he paid for that. I rinse my teeth. If I drink the water, my stomach won't like it.

Time to go. I hate the idea of being inside a car now. She drives and drives and I think I fall asleep, but then I wake up and need to leave the car. I leave, I feel the fresh air and my mouth is dry again. So dry. I need water and I'm ready again.

Another endless ride in the car and I need to stop another time, sadly only two minutes before I get home. I need water, I need fresh air. I throw up, but I don't care. "Her hair, her forehead!" I don't need to be taken care of. I'm ok. For the first time in my drinking experience, I'm lonely. Is this what independence feels like? You can feel like shit and don't need anyone? It's funny how they probably think they're taking care of me, yet oddly I'm doing everything by myself. I know what to do and when to do it. But I needed the ride home.

Ironically, I don't know why, I say I'm not ready to be alone. Guess it's the habit. I prevent someone from going home over that. Stupid. Because I only lie on my kitchen floor, then throw up in the sink, clean everything up and go to bed. And he never has to do anything except my shift, the next morning.

The worst part about drinking is the shame and the guilt. I don't feel ashamed nor guilty. I didn't do anything wrong and I don't care what people will think of me. I'm tired of judgments. I'm tired of self-righteousness. I'm tired.

I know where I stand now. And I'm even more deeply aware of why I couldn't stand to live beyond my thirties. I need to feel something, anything. And the time is running out.

All I ever did in the past five years has brought me this far. All I ever wanted was to be able to do everything on my own. Now I don't need people because I have to. Now I need people because it's better with them.

With great power, comes great responsability. With freedom, comes loneliness.

Nothing good is ever simple.

MJNuts

Thursday, May 14, 2009

A Torre da Galp

Meus caros fiéis do Tretas! Eu sei, eu sei, isto aqui anda já a ganhar um pouco de pó, mas nós, por estes lados, não colaboramos com as limpezas de Primavera. Aliás, funciona até um bocado ao contrário. A Primavera traz-nos situações, emoções e muitos bichinhos, que nos distraem das nossas outras rotinas, como esta do nosso estimado santuário. É da Primavera, é o que dizem.

Não vos trago palavras de um post importante ou sequer interessante, mas achei que era impensável não partilhar com vocês a conquista de mais um objectivo de vida por parte do vosso morcego. Nada daqueles grandes marcos que se luta toda a vida para alcançar - até porque desses, não tenho nenhum -, mas daqueles pequenos doces da vida que gosto sempre de apanhar. Como ir nadar para uma praia nu, durante a noite. Esse já o concretizei o ano passado. Com muito gosto!

Pois bem, desde que vim morar para o Parque das Nações que sempre tive o desejo secreto de subir até ao alto da Torre da Galp. Já ouviram falar dela? Para quem não conhece este monumento, aqui está ele...


Sim, todos os bons frequentadores do Parque das Nações já viram esta pila enorme, que tão pouco parece ter a ver com os prédios que a rodeiam. Se bem se lembram, o Parque das Nações, antes de ser a Expo '98, era um parque industrial ou melhor, uma autêntica lixeira. Mas nem tudo foi derrubado. Como tal, em homenagem à fábrica da Galp que aqui existia, decidiu-se deixar erguida a famosa torre, que era conhecida pela chama constante que saía da chaminé mais alta. Já estou a fugir ao assunto.

Tantos dias passei eu por ela e me imaginei a subi-la na minha ânsia de rapaz armado em rebelde, que gosta de fazer coisas ilegais. Sim, porque aquilo tem um portão com grades, que não deixa qualquer margem para dúvidas de que se trata de uma propriedade privada com acesso interdito. Foi hoje o dia.

E tão feliz estou eu por ter partilhado a subida com a nossa... não, hoje, é minha... com a minha MJNuts. A subida foi longa e não tão cansativa como esperaria que fosse, mas a vista soberba que lá em cima habita valeu a pena todos os degraus ultrapassados. Acredito mesmo que seja o ponto mais alto do Parque das Nações e é lindo. A zona é bonita vista de cima. Percebem-se melhor as formas e os encaixes dos edifícios uns nos outros.

Durante o descanso merecido, no topo da torre, houve as partilhas. A conversa surge fluentemente, ajudada por aquela brisa forte e brutal, mas nem por isso desconfortável. No entanto, nem foi preciso tagarelar muito. Como eu adoro estar com alguém onde o silêncio é sempre bem recebido. O dia de hoje reforçou um pensamento que já vagueia pela minha cabeça há muito tempo...

Como era bom haver um mundo sem palavras. Um mundo onde a comunicação fosse feita através de todas as maneiras possíveis, sem usar as mesmas palavras aborrecidas, que procuram sempre expressar e descrever até à exaustão tudo aquilo que se está a sentir.

Meus amigos, é tudo. Foi uma tarde agradável. E silêncio é muito bom.

Guess