Monday, October 29, 2007

Ah! Nem Vão Acreditar na Rúbrica Musical Deste Mês!

Bem, Outubro foi um mês em grande para o Tretas. Batemos pelo menos 2 recordes pessoais, ou seja... O mais recente post do Guess, Ética, Respeito vs Amor, Atracção, foi o mais comentado de sempre desta banca! Yey! Este também foi o mês mais postado de sempre, 10 artigos com este que agora se apresenta, quem sabe mais algum não virá a tempo? Ah, e claro, a Giovanna voltou a dar sinais de vida, um evento sempre digno de referência!

Como tal, parece-me a mim que a única regularidade que existe neste antro de perdição tinha de ser em grande para fechar Outubro com chave de ouro.

Portanto proponho-me a desafiar todas as leis da decência e do encanto e, sim, vou cometer o temível acto, vou atrever-me à maior das calúnias. Vou olhar para os filmezinhos da Disney, as maravilhas da nossa infância e da nossa vida, e vou ter o desplante de fazer um Top 10 das melhores músicas de sempre. Sem repetir filmes! Ah, o drama!

Convenhamos que quando eu era pita, ia ao cinema ver as coisas dobradas e era assim que as cassetes me eram ofertadas. Por isso, disponho uma lista integralmente portuguesa e brasileira. À bela infância.

Avisa-se os interessados que o post é comprido e repleto de vídeos. x)

10. Mulan- Pelo Amor, Lutar Contra Quem For - o filme é excelente, dos meus preferidos, mas a banda sonora, pelo menos em português, não foi particularmente marcante. Sei que a canção icónica, ou pelo menos aquela de que mais costumam falar, é aquela em que a Mulan canta diante do espelho, mas a modos que essa só vale mesmo na versão da Christina Aguilera...



9. Tarzan - Filho de Homem - não sou particular fã do Luís Represas ou projectos que o incluam, mas admito que ele fez um bom trabalho na banda sonora portuguesa deste filme. E acho que esta música é o expoente máximo desse bom trabalho.



8. Aladdin - Príncipe Ali - bem, 1º pomo da discórdia... Gosto muito do filme, mas não tem as músicas mais populares de sempre... Contudo, as cenas das músicas são míticas, qualquer uma! Há que lhes dar o devido crédito. E pronto, suponho que a maior parte das pessoas se inclinasse para a bela Um Mundo Ideal, mas é sempre desta que eu me lembro e é a que mais vezes cantarolo.



7. A Bela Adormecida - Sonho Bonito Que Eu Sonhei - fogo, o momento mágico do filme! é que punha todas as rapariguinhas a sonhar com príncipes encantados que apareciam assim do nada, todos bonitões!



6. Pocahontas - As Cores do Vento - odiei o filme quando o vi (eles não ficam juntos no fim? mas que raio de filme Disney é este?xD), mas esta música marcou e ficou e ainda hoje é belíssima. Susana Félix no seu melhor.



5. Hércules - De Zero a Herói - o meu filme Disney preferido DE SEMPRE. Adoro tudo, sei tudo, vi mais vezes do que me lembro! As minhas preferências pessoais em termos de canções talvez se inclinem para Não Sei Se É Amor ou No Céu Serei Maior, mas esta é a mais conhecida e é boa demais para não ser homenageada... "É docinho! Sabor que agrada!"

4. A Bela e o Monstro - Bon Jour - eu não quero saber do que diz o mundo inteiro, não há discussão possível! Ju Cassou e companhia a desejarem "Bom dia!" ao povo de passagem é a melhor música deste clássico do coração de tudo o que é gaja! E o filme ainda tem das introduções mais belas e comoventes da Disney...



3. O Rei Leão - Ciclo Sem Fim - é considerado o melhor clássico da Disney e até pode ser, mas tenho uns tantos à frente dele no meu Top pessoal. Mas dou o braço a torcer no que diz respeito à qualidade inigualável desta abertura de arrepiar. Absolutamente genial.

2. O Corcunda de Notre Dame - Os Sinos de Notre Dame - o filme é um bocado seca, digo eu... Das poucas vezes que o vi, dei comigo a pensar "Mas já estão a cantar outra vez?!" e a rolar os olhos de tédio. Mas se há parte que nunca me aborrece e que venero pela genialidade sonora, visual, lírica, tudo... É esta celestial música de abertura. Faz o filme todo. É isso e o pseudo-strip da Esmeralda para cima do Frollo!



1. A Pequena Sereia - Corações Infelizes - Deus me perdoe, e me perdoem também os traumatizados e os que preferem os grandes clássicos cantados lá na gruta e entre os peixinhos todos. Mas esta é A música deste filme. É... é... Não há palavras! Os requintes de malvadez! A crueldade latente! A sexualidade reprimida nas palavras, nas danças, na intenção! É magnífica! E culmina com aquele "aaaahhhh" da Ariel que ainda hoje me lateja na cabeça e me faz doer o coração! Perfeito! A melhor música Disney de todos os tempos.



Isto é, na minha humilde opinião. E olhem que me custou horrores ordenar isto! Ao menos já têm a papinha toda feita e podem recordar as velhas canções dos vossos dias felizes sem procurar muito.

MJNuts

Thursday, October 25, 2007

Como Sair Sempre Por Cima Numa Discussão

Parto do princípio que discutir é inerente a todos os seres humanos falantes. Por falantes, entendam-se várias línguas e linguagens, mesmo as silenciosas.

Não digo discutir estilo decibéis de fazer corar os Metallica com ameaçar de arremesso dos objectos mais próximos. Também pode ser, mas estava a referir-me às discussões mais comuns. Sei lá, dois amigos, um benfiquista e outro sportinguista. Ou duas pessoas a discutirem sobre quem agiu mal ou quem teve a culpa do quê. Coisas assim do género. Triviais, dia-a-dia.

Pois bem, como acontece a todos nós, há dias em que estamos muito eloquentes. Há outros que nem por isso. E depois também depende do "adversário" da discussão. Se tiver muitas cartas na manga, estamos tramados. Por cartas na manga, entenda-se: domínio das falácias da argumentação. Ui, são os que tagarelam melhor, nunca têm razão, mas a gente já nem diz nada só para ver se eles se calam.

Mas adiante. A verdade é que as discussões fazem parte das nossas vidinhas. Se por acaso algum dia acharem que têm razão, mas o fluir da coisa não está a correr a vosso favor, ou simplesmente quiserem que o outro lado da peixeirada feche a matraca, aqui ficam umas dicas que podem usar.

Juro que resulta se conseguirem manter uma expressão irritantemente séria.

1. Portanto está a haver uma discussão assim a dar para o acesa e quando dão por vocês, o tom de voz em acção é mais elevado do que seria recomendável. Se gostam de conversas normais, se evitam berros estridentes e histéricos... Com certeza o panorama actual da discussão não vos está a agradar. Nada mais simples. Páram por momentos e fixam a outra pessoa nos olhos. Quando encontrarem uma aberta, sussurram em grande estilo: "Porque estás a falar tão alto?". É provável que não vos percebam à primeira, mas podem repetir, não corta muito o efeito. Garanto-vos que o motivo da discussão é automaticamente esquecido. Habilitam-se é a levar um murro se a pessoa do outro lado for daquelas de ter os nervos em franja.

2. Esta apresenta resultados satisfatórios quando a discussão é unilateral. Ou seja, quando há alguém que está a dar na cabeça de alguém. Neste caso, basta sorrir e concordar. Aconselho-vos a desligar do que quer que seja que vos estão a dizer, principalmente se acharem que a pessoa se está a repetir ou não tem tanta razão quanto isso. Com sorte, irritam o/a Sr/a. Sermão. Senão, o/a respectivo/a Sr/a. Sermão fica contente porque acha que está a ser ouvido.

3. Bem, eu diria que esta dica é a cereja no topo do bolo. Mas digamos que é uma arma, erm... pouco civilizada? Se tiverem muita confiança com uma pessoa e estão a debater um assunto, sei lá, com quem a Kate deve ficar no Lost, e por acaso até sentem que os argumentos contrários vos estão a dar grande baile... Pah, excelente altura para soltarem descontraidamente, assim como quem não quer a coisa, um "Tens um pedaço de comida entre os dentes". Tiro e queda. Ninguém põe vitórias em discussões acima do constrangimento social.

Com certeza haverá mais, mas de momento é o que me ocorre. Quem sabe não vos safará para a próxima?

MJNuts

Monday, October 22, 2007

Ética, Respeito vs Amor, Atracção

Para parar com esta onda de espírito assim um pouco negativo ou soturno, gostaria de levantar mais uma questão polémica que diz respeito às relações entre os seres humanos em qualquer parte do mundo. Devo confessar que fiquei motivado a escrever este post depois de ter sido confrontado com uma situação semelhante à seguidamente enunciada. Tal como MJNuts tem transmitido nos seus posts, estas últimas semanas têm sido de grande emoção. O caso que enunciarei de seguida não se trata propriamente de um exemplo real. É, simplesmente, um caso que descreve o assunto que quero tratar. Seja como for, eis a situação.

É de conhecimento mais que óbvio que vivemos num mundo onde todos receiam a solidão. Esqueçam. Somos todos indivíduos que não têm qualquer poder sobre... (não queria utilizar nenhum cliche ou soar demasiado dramático, mas tem que ser) quem decidimos amar, ficar apaixonados ou mesmo sentir atracção sexual.

Tomemos o caso da paixão.
Pessoa A é um cidadão do mundo susceptível de ser visto por qualquer pessoa a partir do momento em que se encontra no espaço público. Pessoa Z, no seu direito de vaguear pelo espaço público, cruza o seu olhar com Pessoa A e sente, imediatamente, uma explosão de sensações. Falemos, primeiro, da atracção física (até porque a primeira impressão é sempre a exterior). A beleza lasciva de A e os contactos visuais entre os dois impressionam Z de uma forma tão extraordinária, que antes de ir dormir já sabe sobre quem vai sonhar.
Pessoa Z procura conhecer melhor Pessoa A e aprende a gostar do seu sorriso. Insiste em vaguear pelo mesmo espaço público por onde A vagueia e, superando as suas inibições, conhece-a através de uma conversa simples, mas suficiente para aumentar a intensidade dos seus sentimentos por esta. Parece surgir aquela paixão fresca que dá vontade de tentar tudo e que enuncia uma possibilidade de amor.

Apercebendo-se das suas intenções, Pessoa A revela a Pessoa Z que se encontra numa relação com Pessoa B que dura já há 3 anos. Uma relação que vive tempos de felicidade e onde ambas as partes são fiéis.

Pergunta: Deve Pessoa Z deixar de lutar por Pessoa A, sabendo que esta é comprometida?

Desta vez, vou dar a minha opinião:
Não! O mundo é horrendamente cruel e cada um deve fazer o que está ao seu alcance para atingir a sua felicidade (com prudência, claro. Não sou assim tão radical). Se Pessoa A ama realmente Pessoa B nunca terá "relação alguma infiel" com Pessoa Z, portanto, é seu o problema e não de Z.

Não precisavamos se quer de ir tão longe. Se me sinto sexualmente atraído por Pessoa A devo ou não tentar a minha sorte, sabendo que ela tem um relação estável com Pessoa B? É cruel da minha parte se tentar?

Guess

As Palavras Que Talvez Nunca te Venha a Dizer

Se eu soubesse falar, em vez de escrever, tinha de ir ter contigo e dizer-te o que não me sai da cabeça. Ou do coração.

Chamava-te para junto de mim e sossegava-te. Não te quero tocar nem roubar-te um beijo. Só quero que venhas comigo uns minutos e que me oiças. Não quero que tenhas medo de mim nem que penses que te estou a perseguir. Eu apenas sou o que sou e tenho de ver-te por mais que não queira. E não consigo deixar as coisas a pairar, sem me explicar. Preciso estupidamente que tudo esteja mais claro que água para não haver dúvidas.

Não fizeste nada de mal. Era a tua namorada, já me tinhas avisado do teu compromisso. Não faz mal. Só fez mal até eu descobrir que ela era de facto a tua namorada. E de repente todos me vieram falar e consolar e eu não os conhecia de lado nenhum. Diziam-me para erguer a cara e ir dançar, porque tu não vales nada. Disseram que eu estava a fim de uma pessoa que não queria nada comigo, para esquecer e seguir. Para ir beber qualquer coisa, mostrar que estava bem.

Porque não podia mostrar que estava mal? Porque tinha de fingir sentir-me bem quando me apetecia estar quieta a pensar, sem ouvir ninguém. Qual é o problema de ter ficado magoada? Sujeitei-me. Porque havias tu de não valer nada?

Queria que soubesses que não lhes liguei. Que até podes não valer nada, mas que eu ainda não descobri isso por mim. E portanto é com a minha opinião que vou ficar. E na minha opinião és interessante e tens valor, porque lidas constantemente com o degredo e manténs-te fiel aos teus princípios. Ou pelo menos passas essa impressão.

E eu posso parecer pita, é verdade. Tenho um ar mais jovem do que a minha idade. Dou-me com pessoas de todas as idades (é verdade, até bebés) e sei colocar-me ao nível de todas elas. Quando estou à vontade? Sou jovem e despreocupada e não quero saber se a sociedade exige que eu aja de acordo com a minha idade. Mas a verdade é que tenho os meus 21 anos e, quando se perde tempo suficiente a falar comigo, não são os 16 ou 17 que saltam cá para fora. São os 21 e o que sofri, o que aprendi, o que amadureci.

Mas sou emotiva, emocional. Não lido bem com o coração, não sei lidar. E reagir por instinto solta sempre aquela sensação de inocência, de ingenuidade.

Não me envergonho de ter ficado magoada e que tu tenhas reparado nisso. Envergonho-me de não me ter explicado. Envergonho-me da minha expressão triste na despedida e da tua expressão acabrunhada, como se te sentisses responsável por algo do qual não tens culpa.

Também não é preciso teres pena de mim, está bem? Acontece a toda a hora, todo o instante. Nem sempre os sentimentos são correspondidos e sortudos os que os vêem correspondidos. Sortudos os que os sentem, também.

Por isso foi bonito e intenso e um bocado inexplicável. Não faz muito sentido bater com tanta força, com tão pouco tempo de convívio. Apenas com olhares e conversas. O mal é meu, devo ter visto coisas onde elas não existiam. Mas não faz mal, foi bom assim.

Agora queria só estar aqui contigo, sem te tocar ou tentar o que quer que seja, olhar nos teus olhos e ver a tua reacção. E dizer-te que com mais tempo, tinha-me apaixonado por ti. E não sei porquê.


MJNuts

Thursday, October 18, 2007

Anima-se Tudo, até Música!

Comprei o DVD de Pedro e o Lobo, que é uma maravilha de animação stop-motion da autoria de Suzie Templeton, e mais uma vez fiquei viciada em praticamente todas as técnicas de animação. Daí o timming para receber este clip no meu mail ter sido perfeito, e não resisto a partilhá-lo (e a ver se ainda me lembrava da password para entrar no blog. Hmm...).




Giovanna

Fa yeung nin wa - Disponível Para Amar

Já muitas vezes tinha ouvido falar de Wong Kar Wai. E bem! Mas nunca tinha visto filmes dele. Mais vale tarde que nunca.

Começar por este In the Mood for Love (como é mais conhecido entre os cinéfilos de cá, o que é um bocado idiota já que o título original é chinês/mandarim/cantonês? de qualquer das formas) revelou-se uma excelente ideia.

Há algo de místico no cinema oriental. É um pouco estranho ouvir aquelas línguas das quais pouco ou nada percebemos e termos de confiar cegamente nas legendas. Aqueles sons esquisitos às vezes até dão a impressão que o sentimento é distorcido, que a actuação não é boa o suficiente.

Mas isso são questões de hábito. É o menos, é o irrelevante. E pela beleza que tem, o cinema oriental merecia muito maior destaque neste nosso Ocidente arrogante e desdenhoso.

Assim me chega aos olhos Disponível Para Amar, cerca de um mês depois de ter comprado um pack de DVD's do realizador. Não sabia para o que ia, apenas confiava que, se tanta gente diz maravilhas, é porque algum fundo de verdade há-de ter.

Que premissa tão simples! E que encantos se podem fazer com a simplicidade! Dois casais vão viver para o mesmo prédio, quartos (ou apartamentos?) no mesmo corredor. A mulher de Chow está sempre ausente, o marido de Chan nunca está em casa.

Conhecem-se. Simpatizam um com o outro. Começam a suspeitar da infidelidade dos cônjuges. Há ritmos lentos e troca de olhares. Há algo presente que cresce cada vez mais e se torna mais pesado... Uma força invisível que os une e os embaraça.

"Não seremos como eles."

É fascinante como há um amor tão palpável, tão presente. Como há uma tensão insuportável na forma como aquelas pessoas mal se tocam, apesar de o desejarem tanto.

E a cumplicidade cresce, mas aquela determinação em não serem como os esposos infiéis não dá lugar para mais nada. Só para sofrimento e lágrimas e partidas.

No entanto é amor, sempre presente. Ainda há histórias de amor.



Belíssimo. E doloroso. Real.

Agora tenho de ver o 2046.

MJNuts

Tuesday, October 16, 2007

Porções de Humanidade II

E porque esta é uma semana intensa, de memórias agridoces e porque nunca é demais lembrar o quão humanos somos todos nós... E também porque o facto de sermos humanos não nos torna Pessoas. Pessoas com "P" maiúsculo, dignas desse nome. Que marcam e estão acima da componente biológica inerente a todos os seres vivos.

É hora de novos postais. Os preferidos da minha actual colecção, maior a cada semana que passa. Como sempre, os créditos são todos de http://postsecret.blogspot.com/ e de quem para lá envia estas pequenas maravilhas.














MJNuts

Sunday, October 14, 2007

In Memoriam

Uma noite. Diferente das outras porque era o teu dia, o dia que tinha de ser perfeito para ti depois de tantos anos em que o mereceste. Das 0h às 7h, irrepetível. Dormir. Tarde de alegrias e de surpresas. Para ti, na tua companhia, porque fazes parte de mim como se fosses a minha carne e não tenho explicação para isso.

A noite. O mesmo bar da noite anterior. Talvez lhe deva chamar discoteca. Não sei, é uma mistura.

Gente estranha e invulgar por todo o lado. Não estávamos em casa, porque éramos novos no local. Mas também somos estranhos à nossa maneira e como tal, somos livres entre a estranheza e luminosos entre a normalidade.

Dançar. Música comercial. Música pimba. Um pouco de techno. Música brasileira de mau gosto. A vez anterior tinha sabido melhor.

São os olhos castanhos atrás do balcão. Escuros, penetrantes. Estão cansados e pouco se cruzam com os meus, mas sorriem quando o fazem. E então procuro e insisto e só consigo olhar naquela direcção.

Deixa-me louca. E vou ao bar buscar bebidas para mim, para ti, para ele. Tudo para ficar mais próxima. E os olhos fixam-me e às vezes sorriem e fingem escrever no cartão bebidas que eu estou a beber, mas não estou a pagar.

E o álcool percorre-me as veias e começa a chegar-me à cabeça. Será ao coração? E as emoções estão à flor da pele e há uma raiva, uma frustração crescente. De querer fazer e dizer o que nunca disse ou fiz, que nunca consegui pôr em prática.

Há um turbilhão no meu peito que me enche os olhos de lágrimas e é ridículo. São só olhares e algumas palavras, mas há uma óbvia empatia que me esmaga e com a qual não sei lidar. Uma atracção que eu já não lembrava como se sente. Como pode ser tão assustadoramente carnal e espiritual.

Ganho coragem. Arranjo monumentais doses de estupidez. E vou até ao bar, dou a volta e segredo-lhe ao ouvido as palavras do acto que me falta coragem para fazer.

Viro costas imediatamente. Não sei porquê. Qual terá sido a reacção?

Temos que ir embora, subir as escadas, a porta fecha-se atrás de nós. Mas há álcool no meu sangue e tenho de voltar, não dá para esperar até chegar a casa para ir à casa-de-banho.

Bato à porta uma e outra vez. Estou trémula e furiosa, sei disso mas é como se estivesse a pairar sobre mim mesma, sem conseguir evitar todas as sensações exacerbadas que me assolam. Alguém vem abrir, finalmente, e lá estão os olhos castanhos, junto ao porteiro. Há surpresa com o meu regresso.

Mas não foi por isso que voltei e nem ligo porque não vale a pena. Casa-de-banho. Cubículo. E enquanto lá estou, abre-se a porta e alguém espera que eu saia. Pressenti que fosse por isso que largaste o bar e subiste ao andar de cima.

Conversa estranha. Bonita. Inesperada. Há um compromisso e eu respeito-o. Há empatia, uma qualquer vaga identificação dos percursos de vida, dos gostos. Há uma distância física e um muro invisível a separarem-nos. Há alguma dor e não percebo porquê. Dizes-me que sofrer não vale a pena e subentendo que já sofreste muito. Eu afinal tenho mais um ano que tu, mas quem parece inocente sou eu. Talvez o seja. Ao pé de ti é provável, que te imagino com o mundo sobre os ombros.

Não há toque. Só olhares e inibições, um embaraço a flutuar no ar. Há uma certa mágoa. Receias o novo rótulo com que te podem catalogar e imaginas os filmes que se passarão nas cabeças para lá da porta fechada. Despedes-te assim, a arranjar forma de parecer que só aconteceu o que efectivamente aconteceu. Uma conversa. Desde quando é preciso a verdade ser exaltada e exagerada para acreditarem nela?

Estendo-te a mão e apertas-ma. Formal. Tirei a mão, mas voltei a estendê-la e tu a apertá-la. Ou será que nunca nos largámos e o aperto foi prolongado? Pedes-me para voltar e não prometo nada. Queixas-te um pouco do estado a que chegou o local, mas repetes o pedido. E largas-me e fechas a porta do cubículo sem um último olhar e eu hesito um momento antes de sair.

Quero voltar, mas não sei quando. Vais esquecer-me?

Obrigada por te teres dado ao trabalho de conversar. Desculpa se pareci imatura, impulsiva ou de alguma forma inconveniente. Não foi por mal.

"Shit. I was almost happy again."

MJNuts

E a ti, que és parte de mim como eu própria sou, obrigada por o teu dia perfeito ter também sido o meu.

Friday, October 12, 2007

Stardust

Conhecem Neil Gaiman? Se não, fazem mal. A minha moral para falar (neste caso, escrever) não é muita, pois dele só li o hilariante Bons Augúrios, a meias com o bastante peculiar Terry Pratchett. Mas estou familiarizada com o seu trabalho, da célebre BD The Sandman aos variadíssimos livros que envolvem as mais delirantes fantasias da nossa imaginação no quotidiano dos comuns mortais. Essa é a magia de Neil Gaiman. Há satíra, há humor, há desgraças e confusões. Mas tudo misturado num caldo tão... acolhedor que o nosso coração se enche de esperança e a alma de sorrisos.

Eis então que veio alguém e resolveu adaptar o seu romance fantástico Stardust ao grande ecrã. Realizado por Matthew Vaughn, o filme conta com uma galeria de actores bastante agradável. Pelo menos para os gostos aqui por estes lados. Bem, por mim bastava ter a Michelle Pfeiffer que eu já me mexia para ir ao cinema (*cof*Hairspray*cof*pavor*). Mas além da magnífica senhora aparentemente imune ao tempo, temos também Robert de Niro num papel invulgar para o seu habitual, Ricky Gervais numa curta mas divertida participação, Peter O'Toole representando o ancião que só ele consegue ser... E claro, as petites e bonitas madames Claire Danes e Sienna Miller. Um bocado parecidas uma com a outra, mas isso com certeza terão sido detalhes para baralhar o herói Tristan, com Charlie Cox a estrear-se no seu primeiro papel como protagonista.

Mas deixemo-nos de pormenores desinteressantes. Stardust é uma delícia. Pura delícia para quem gosta de sentir e ainda não foi completamente possuído pelo cinismo desta vida.

Tudo começa nessa bela vila de nome Wall, situada algures em Inglaterra. E Wall porque há um enorme muro a separá-la de um campo que se diria banal, apenas com uma brecha convenientemente grande para uma ou mais pessoas conseguirem passar. Um jovem de aspecto cromo chamado Dunstan, certa noite, lá conseguiu enganar o guardião da brecha, atrevessou o muro e deu consigo em Stormhold, uma cidade repleta de seres estranhos e mágicos.


Estão a ver esta bonita moça? Pois diz que parece que a irreverência de Dunstan lhe trouxe sorte por uma noite. Mas 9 meses depois, a sacana deixou-lhe uma prendinha à beira do muro.

E foi assim que nasceu Tristan. E cresceu para também ele se tornar um jovem de aspecto cromo. Apaixonadíssimo por uma sempre luminosa Sienna Miller, aqui a fazer de menina semi-rica, mimada e irritante.

Entretanto, em Stormhold assiste-se à passagem do legado de um rei às portas da morte aos seus filhos. Eram 7, só 4 estão vivos, mas os restantes 3 fantasmagoricamente assistem a tudo. Como com tanto filho vivo, segundo tradições familiares, nenhum é rei legítimo, o pai decide que quem apanhar o seu rubi é que será o próximo rei. Lança a pedrinha ao ar e... eis que a pedra voa para além da atmosfera e estratosfera e afins camadas protectoras, atinge uma estrela e a puxa até este humilde planeta. Os filhos do rei dão por ela, Tristan e a sua amada dão por ela, um inigualável trio de rainhas bruxas maravilhosamente velhas e raquíticas dá por ela. Assim é apresentada a nossa estrela cadente.

Ora bem, os filhos do rei precisam da estrela para saberem qual deles é o próximo rei. Tristan quer a estrela para provar o seu amor a Victoria. As bruxas querem a estrela para se alimentarem dela e ficarem jovens e belas outra vez.


"No star is safe in Stormhold."

E todos partem em busca da estrela. Tristan chega lá primeiro e é graças a ele que descobrimos que a estrela é uma rapariga loira e imberbe. Que, coitada, com a queda ficou muito mal da perna. Assim começa a longa jornada de Yvaine, a bela estrela, a tentar regressar em casa sem cair nas garras de tantos interesseiros.

O resto é história. E magia. E oh meu Deus, quero ver o filme outra vez! Faz rir e sorrir e faz-nos sentir bem!

A bruxa Michelle Pfeiffer, alimentando-se do poder da última estrela caída, fica jovem e bela, mas cada vez que faz um feitiço, ganha umas rugas ou uns quantos defeitos que agradeciam cirurgia plástica. Os filhos do rei vão-se matando uns aos outros e juntam-se aos irmãos mortos, formando uma plateia que não tem reacções muito diferentes das nossas enquanto espectadores. Tristan vai aturando a estrelinha mimada que muito lhe ensina com o passar do tempo.

Ah, e claro que há piratas voadores e negociantes de aspecto duvidoso. E há duelos e sequências vagamente musicais. Há um pouco de tudo, neste filme de encher o olho e a imaginação onde se nota, tão bem, a influência de Gaiman.

É, para mim, o melhor filme de fantasia desde os já-lá-vão-uns-anitos Lord of the Rings. E não, eu não considero o El Laberinto del Fauno um filme de fantasia. Pelo menos não no sentido tradicional do termo.

A não perder. A sério.

MJNuts

Wednesday, October 3, 2007

Todo o Indivíduo é EGOÍSTA!

Depois de originar motivo para discussão com aquela lista controversa enunciada no post Os Piores Sentimentos, volto a expôr mais uma das minhas teorias da treta sobre a natureza humana. Embora acredite piamente na tese que estou prestes a enunciar, tenho perfeita consciência da facilidade que existe em contornar o assunto e contestá-lo com pedras e pedregulhos! Estão, pois, avisados que é uma opinião bastante subjectiva e alternativa a minha. Mas eis o que interessa.

Tal como enuncia o título bastante negativo (ou não) deste post, todo o indivíduo é egoísta. Para não haver margem para dúvidas, todo o ser humano é egoísta. Sim, é verdade que todos temos um pouco daquele egoísmo que se faz sentir ligeiramente quando nos pedem uma dentada do nosso palmier coberto logo pela manhã, mas não é a isso a que me refiro. O que quero dizer é que todas as acções praticadas pelo ser humano têm como motivação principal o egoísmo.

Logicamente, o egoísmo existe nas relações estabelecidas entre as pessoas e, como tal, afirmo que não importa que se trate de um conhecido, de um namorado, de um amigo ou de um familiar. Todos eles recebem o mesmo tratamento quando se trata de ser egoísta.

Na minha humilde opinião de um jovem impulsivo de 17 anos com as hormonas aos pulos, estamos todos a ser egoístas quando ajudamos a velhinha a atravessar a estrada, quando salvamos aquele rapaz de ser atropelado, quando damos o lugar no metro àquele senhor de moletas, quando atravessamos a cidade inteira para ir ter com um amigo que precisa de nós, quando passamos o Ano Novo com a família em vez de ir para a borga com os amigos. A verdade é que, se praticámos estas acções anteriormente enunciadas, significa imediatamente que nos sentiríamos pessimamente mal e com um enorme peso na consciência ao não o fazermos. Caminharíamos para casa a pensar que a velhinha poderia ter sido atropelada, sentiríamos remorsos por não ter impedido o rapaz de ter sido atropelado, o assento do metro deixaria de ser confortável só de vermos um homem de moletas sem lugar, não iríamos conseguir dormir à noite porque sabíamos que alguém do outro lado da cidade precisava de nós, não nos divertiríamos o suficiente com os amigos, sabendo que alguém estava realmente triste por celebrar o início do ano sem nós. Embora alguns destes sentimentos hipotéticos tenham sido exagerados, vocês percebem a ideia.

Se me disserem que fazem qualquer uma destas acções apenas pelo prazer de ajudar alguém e pôr esse alguém feliz eu chamo-vos egoístas à mesma. Afinal de contas, essas acções contribuem para a vossa satisfação pessoal e um alívio de consciência. Porque ninguém aguenta passar na rua por uma criança que está deitada na calçada sozinha a chorar sem parar para lhe perguntar o que se passa. Porque a felicidade que ganhamos em ver um sorriso infantil conseguido por mérito próprio sabe bem ao nosso ego.

Para não falar também do reconhecimento das nossas acções. Quem não gosta que se saiba que ajudámos pessoa X ou Y? Sabe sempre lindamente quando somos reconhecidos e elogiados por termos praticado tão nobre acção. Mas este é outro campo pelo qual não pretendo entrar de momento.

No entanto, não me interpretem mal. Quando afirmo que todo o indivíduo é egoísta não o faço com uma tonalidade negativa. Se reflectirmos um pouco, poderemos considerar ruim um sentimento que nos faz praticar boas acções?


Guess